O amor, dizem, é feito de grandes
gestos, jantares à luz de velas, declarações apaixonadas em despedidas em aeroportos, serenatas sob a
janela hoje em dia se tornou raridade ou melhor acho que nem existe mais a não
ser em Conservatória cidade das serenatas no estado do Rio de Janeiro. Mas
quem vive o amor sabe que ele mora mesmo é nas banalidades diárias.
No “trouxe seu
chocolate preferido”, no “já lavei a louça”, no “coloquei seu casaco na mochila
porque vai esfriar amanhã”.
Essas pequenas
coisas, tão miúdas que mal fazem barulho, são o que sustentam os grandes
sentimentos. O amor não se alimenta só de versos de amor e de bons momentos, mas de rotina, e é aí que
mora o perigo, quando o costume vira descuido, quando o “bom dia, sem um
beijinho” vira silêncio, quando o “eu te amo” vira duvidas implicância.
A gente se
acostuma um com o outro como quem se acostuma com o sofá da sala, está sempre
ali, até meio gasto, mas ainda confortável. E nessa zona de conforto, o amor vai
se tornando invisível. Não porque deixou de existir, mas porque deixou de ser
notado principalmente quando o outro fica com a cara na porra do celular.
O amor é feito de
banalidades. De “por que você colocou cebola no molho se sabe que eu odeio cebola?
”. É uma eterna negociação entre gostos, manias e a temperatura do
ar-condicionado, e deixar de ver a novela porque tem futebol no mesmo horário em outro canal.
O problema das
banalidades é que elas são discretas. Não fazem alarde, não exigem atenção. Mas
quando somem, fazem falta. É só quando o café da manhã não está pronto, quando
o “boa noite” não vem, com aquele beijo de língua intenso, e aquela encochadinha
pra sentir o calor do outro, é que a gente percebe que o amor também pode
morrer de sede, mesmo cercado de água.
Talvez amar seja isso, rir
das falhas, colecionar esquisitices e transformar o cotidiano em algo
extraordinário. Mesmo que às vezes o extraordinário seja só beber no mesmo copo
a ultima cerveja gelada.
Pode ter certeza o amor não se mede pelo fogo do tesão, mas pelo fósforo acendendo uma vela perfumada, numa noite qualquer para dar um clima e acalentar a noite de pegação antes que o sonho nos toma por completo.
Por Alfredo Guilherme

6 comentários:
Achei fantastica a mesasgem da imagem do fósforo acendendo uma vela perfumada numa noite qualquer é simplesmente linda. Ela mostra que o amor não precisa de espetáculo, só de presença, cuidado e intenção. E que até uma “noite de pegação” pode ser acalentada por um gesto simples e cheio de afeto.
Esse texto é um lembrete poderoso de que amar é estar atento, é cuidar, é transformar o ordinário em extraordinário. E talvez, como vc diz meu caro amigo Alfredo, seja mesmo isso, rir das falhas, colecionar esquisitices e beber junto a última cerveja gelada.
Como leitor, seu texto me tocou profundamente. Ele traduz com sensibilidade algo que muitos de nós sentimos, mas nem sempre conseguimos colocar em palavras: que o amor verdadeiro não vive nos grandes gestos cinematográficos, mas sim nas pequenas ações do dia a dia.
Crítica sutil à desconexão moderna a menção ao celular como barreira silenciosa entre os parceiros é um alerta delicado, mas necessário.
Valeu cara adorei mais seu texto
Que pena se eu tivesse lido os textos do seu blog a 20 anos atraz não tinha feito tanta merda na minha vida enfim o que passou passou infelismente e não volta mais, parabens pelos textos
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