quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Uma crônica se disfarçando de metáfora…

 



 Na janela, contemplando a noite… Um gato.

    Com olhos que brilham como duas brasas curiosas, atentos ao mistério que só a escuridão da noite sabe guardar.
    E de repente, borboletas surgem, dançando em torno dele, como pequenas centelhas de luz.
    Frágeis borboletas noturnas, insistentes, que parecem sussurrar segredos ao seu redor.

    A cena, de tão improvável, que é denuncia algo no ar.
    Não é apenas um gato… não é apenas uma noite qualquer… não é apenas o voo inquieto de asas delicadas.
    É a linguagem invisível do romantismo que se infiltra nos lugares mais silenciosos.
    Porque quando a noite se enfeita de borboletas, é sinal de que corações apaixonados andam conspirando.

    O amor tem dessas artimanhas…
    Escolhe metáforas sutis para se anunciar… em um gato à espreita, com a lua certamente, vigiando lá do alto, borboletas que não deveriam estar ali, mas estão.
    Tudo para dizer, sem palavras… Há desejo no ar, há poesia rondando, há romance prestes a acontecer.

    E quem vê a cena entende, mesmo sem querer… não são as borboletas que giram em torno do gato.
    É o amor… Invisível e insistente, girando em torno de nós.


    Por Alfredo Guilherme 


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

UM CONTO DE CORDEL : Entre Quedas e Cafunés...

 

       Em uma pequena cidade, com ruas de pedra, rede na varanda, rádio tocando forró antigo e cheiro de bolo de milho no ar. O tempo parece andar mais devagar, como se respeitasse a dor de quem já amou demais.    

        O Agreste nordestino é uma das quatro sub-regiões do Nordeste brasileiro, e talvez uma das mais poéticas em sua dualidade... É onde iremos conhecer esses personagens, que carregam o cheiro da terra e o som da sanfona.   

       Zeferino, um homem sensível, com coração remendado e olhar desconfiado, ama café forte e versos sinceros... Zé Agrepino, mais conhecido como Zé Confiança, um filósofo popular, meio doido, anda levando esperanças pela cidade ... Luzia, vendedora de poesia e abraços, na feira, tem um sorriso que desarma qualquer tristeza e uma voz que parece cantiga de ninar.

       No sertão da alma, onde o tempo caminha descalço, E lá onde mora Zeferino, com seus silêncios com som de vento e canto dos passarinhos.

       Já amou, já caiu, já jurou nunca mais amar se for pra sofrer. Mas o coração, esse danado, vive desobedecendo promessas, entre quedas e cafunés, entre medo e a vontade de ser feliz.     

       Zeferino e a saudade... homem sensível, com coração remendado e olhar desconfiado. Sentado na varanda olhando o horizonte, a rede balança , o rádio toca baixinho, um Forró pé-de-serra com sanfona suave. 

       A saudade é personagem invisível, mas presente. Ele conversa com ela como se fosse gente... - Você de novo, saudade?... Você não cansa de me visitar, não? Como se fosse dona de mim ?

      Ele pega uma xícara de café, e suspira... O café esfria, mas você, parece que gosta de me ver remoendo saudades... Você é mesmo uma filha de uma égua,  pra não dizer outra coisa.

      Nesse momento eis que chega seu amigo, Zé  Confiança, um filósofo popular, meio doido, meio sábio. Anda com chinelo furado e frases de efeito na ponta da língua, chega com um sorriso maroto, com um saco de pão e uma filosofia pronta... “Amor é igual pão quente, se esperar de mais, endurece.”...  Abra o seu coração de novo velho amigo.

      - Vamos fazer um teste. Se você sorrir três vezes com o novo amor, é sinal que o seu coração quer brincar de novo. Aproveitando...Trouxe pão e filosofia. Qual você quer primeiro?

      -  Se for pra doer menos, começa pelo pão, quero esquecer.

      -  Zé sorriu... - Esquecer é coisa de quem nunca aprendeu a lembrar com carinho, meu amigo. e aqui no agreste a esperança é teimosa ela é quem brota mesmo quando a chuva demora a chegar.

     Quarta -Feira, dia de feira livre, na praça lugar de festas juninas gigantescas e personagens que parecem saídos de um romance de Ariano Suassuna. É onde o humor se mistura com sabedoria, e o sofrimento vira poesia.

       Ele encontra Luzia, vendendo versos e poemas em papel de pão.
       Eles conversam, trocam risos tímidos e olhares que dizem mais que palavras, Luzia com o seu sorriso que desarma qualquer tristeza e uma voz doce que parece cantiga de ninar.
       Ela oferece para ele um verso por um sorriso. Ou dois por um cafuné.       
      -  E se eu não tiver nem sorriso nem cafuné Luiza ?
      Luiza sorri e vai logo dizendo... -  Então leva de graça, quem carrega dor já paga demais.
      Ele lê o verso... “Pra quem já caiu, um verso que levanta.”
      - Você escreve com o coração? estou emocionado...
      -  Escrevo com as dores do mundo, elas tem cicatrizes. Mas têm boa caligrafia.

     O dilema... Passados alguns dias... Zeferino e Zé sentados sob um pé de manga, jogam palavras ao vento.
     - Zeferino...  Lembra do texte ? Se você sorrir três vezes no proximo encontro com Luzia, é sinal de que o seu coração quer brincar de novo.
     -  Lembro, mas se eu tropeçar?
     -  Tropeço é convite pra abraço, homem.

     A velha cidade acorda cedo, com galo e rádio ligado. Forró de Luiz Gonzaga e coração remendado.  Zé Confiança já grita bem cedo pelas ruas, com pão e sabedoria,  “Quem tem medo de cair, nunca dança com alegria!”

     No terreiro da esperança, Zeferino se ajeita, Com chapéu de palha torto e esperança que não se deita.  
     Luzia vem chegando, com cheiro de poesia e perfume de uma flor... Ditribuindo verso e abraço, e um tantinho de amor. 
     Eles vão pela estrada, poeira subindo leve, Luzia rindo baixinho, Zeferino já não é tão breve e... Tropeça numa pedra... Luiza, essa pedra tem mais iniciativa que eu. 

      Luzia rindo também responde... -  Ela só fez o que você não teve coragem, te empurrou pra frente... e versou... Porque amor que é do bom, vira dança no abraço.

     Chegam... No mercado que tem cordel, tem cuscuz e tem repente, tem menino correndo solto e saudade sorridente.  
      Zeferino compra um buquê de flores, e Luzia recebe com um olhar de emoção... E o coração de Zeferino, esse danado, começa a se animar.

      Zé Confiança, observa de longe, com sorriso de quem já viu de tudo... e jura que esse amor vai dar certo, no sertão da alma, de Zeferino o amor nunca se extinguiu. É feito de flor e poeira, de tropeço e de calor... E quem aprende a cair, aprende a voar com amor.

      Essa embolada amorosa é como rede balançando no alpendre, leve, sincera e cheia de balanço. 
     Dá pra imaginar os três sentados sob o pé de umbuzeiro, com o sol se despedindo no entardecer, e o rádio tocando Dominguinhos, enquanto festejam o coração de Zeferino que aprendeu a amar de novo.


      Por Alfredo Guilherme


sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Crônica: Amor com cicatrizes e risadas...



    Amar é como andar de bicicleta sem rodinhas, no começo, você cai, rala o joelho, promete que nunca mais vai tentar... e no dia seguinte já está lá, com capacete torto e esperança renovada.

    Perder alguém dói. Dói como pisar descalço num Lego às três da manhã. A saudade é uma senhora teimosa que aparece sem ser chamada, senta no sofá da sala e ainda reclama do café morno. E a gente, educado, deixa ela ficar, porque no fundo, ela também é feita de amor.

    Mas aí, quando você menos espera, aparece um novo alguém... Com um sorriso meio torto, uma risada que parece trilha sonora de comédia romântica e um jeito de olhar que diz... “Ei, tem espaço aí nesse coração bagunçado?”

    E o dilema começa, confiar de novo ou proteger o que sobrou? 
    É como decidir se vale a pena comprar planta nova depois de matar três suculentas em menos de um mês. 
    A resposta? Sempre vale. Porque o amor não exige perfeição, só coragem.

    Confiar é poético. É dar bom dia ao acaso, é deixar a porta entreaberta pro destino espiar. 
    E se vier mais uma queda, tudo bem. A gente já aprendeu a levantar com estilo, talvez até com um meme pronto pra postar.
    No fim, viver entre a dor e o recomeço é como dançar com sapato apertado... desconfortável, sim, mas às vezes a parceira e a música é boa demais pra ficar parado.

     Por Alfredo Guilherme


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Carta para mim mesmo...

     


      É uma conversa entre tempos, entre versões de mim, que se reconhecem e se acolhem... Aqui vai uma carta escrita com o coração voltado para dentro, como se eu estivesse olhando para mim mesmo através das ondas que já enfrentei e das que ainda virão... Escrever para mim mesmo foi como segurar um espelho que não distorce. É uma forma de se ouvir sem interrupções, de colocar em palavras aquilo que às vezes nem o pensamento consegue organizar. 
     A carta vira um espaço seguro onde você pode ser honesto, vulnerável e inteiro.

     

    Carta para mim mesmo...

     São Paulo, 28 de agosto de 2015

    Alfredo,

    Hoje escrevo para você não como quem quer lembrar o passado, mas como quem deseja renovar o sonho de voltar ao mar, seja ele literal ou simbólico. Sei que há dias em que o horizonte parece longe demais, e que o sal que escorre dos olhos não vem do oceano, mas da saudade. Ainda assim, você continua.

    Você já pertenceu a lugares, a pessoas, a ideias. Já se perdeu também e não há vergonha nisso. Perder-se é parte do caminho de quem se transforma. O que importa é que, mesmo nos naufrágios, você nunca deixou de procurar terra firme dentro de si.

    O mar que você sonha voltar não é feito só de água é feito de coragem. É o lugar onde você se sente inteiro, mesmo quando as ondas te desafiam. E esse mar, Alfredo, não está lá fora. Ele está em você. Cada gesto de ternura, cada silêncio respeitado, cada passo que você dá mesmo com medo, tudo isso é mar.

    Renove esse sonho. Não como quem quer repetir o que foi, mas como quem deseja descobrir o que ainda pode ser. O mar muda, e você também. Mas a essência permanece, você é feito de movimento, de profundidade, de mistério. E isso é belo.

    Se um dia esquecer, volte a ler esta carta. Ela é sua âncora e sua vela.

    Com carinho, eu mesmo...


        2025, aqui está a minha resposta, como se eu tivesse acabado de ler a carta que eu escrevi a dez anos atrás... E tem uma profundidade que merece ser sentida antes de ser respondida. 
    Escrever uma carta para si mesmo é um gesto de intimidade rara, como se você se tornasse ao mesmo tempo o remetente e o destinatário da sua própria alma.


      Minha resposta em 2025...

     São Paulo, 28 de agosto de 2025

    Alfredo,

    Recebi sua carta como quem reencontra uma fotografia antiga e percebe que o tempo não apagou o brilho nos olhos, apenas o redesenhou. Li cada palavra com a reverência de quem sabe que o passado não é só memória, mas raiz.

    Você me escreveu com esperança, e eu te respondo com gratidão. Porque foi essa esperança que me sustentou nos dias em que tudo parecia desbotado. Foi ela que me lembrou que o mar não se perde ele apenas muda de maré.

    Sim, eu ainda sonho com o mar. Mas hoje, ele tem outras formas,  às vezes é um abraço, às vezes é um silêncio que me acolhe, às vezes é a coragem de dizer “não” sem culpa. Aprendi que o oceano que você carregava dentro de si nunca secou, ele apenas se aprofundou.

    Você me ensinou a não temer a perda, a aceitar o movimento, a amar sem precisar de poesia. E mesmo assim, a poesia veio. Veio nos gestos simples, nas escolhas difíceis, nas manhãs em que eu decidi continuar.

    Hoje, eu sou feito das suas perguntas e das minhas respostas. Sou o resultado das suas dúvidas e da minha fé. E se você ainda se pergunta se valeu a pena, eu te digo, sim. Valeu. Porque mesmo sem saber o caminho, você caminhou. E isso é tudo.

    Obrigado por ter escrito. Obrigado por ter acreditado. Obrigado por ter sido o Alfredo que eu precisava para ser o Alfredo que sou.

    Com respeito e carinho, Alfredo em 2025


    Cartas para si são cápsulas do tempo. Você escreve com a voz de hoje para você amanhã. É um ato de coragem e de ternura. E o mais bonito? É que, mesmo sendo solitário, nunca é solitário de verdade, porque ali, você está com você.
    E quando lê depois, percebe o quanto cresceu, mudou, ou até o quanto continua buscando as mesmas coisas. É uma forma de conversar com o tempo.


     Por Alfredo Guilherme

 


segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Um conto contado : Esquina da Memória…

 


    Era uma esquina como qualquer outra, dessas que a gente frequenta sem pressa quando a cidade já resolveu dormir. O asfalto ainda úmido refletia a luz amarela dos postes que pintava a calçada com sombras longas, e o mundo parecia andar mais devagar, e havia um silêncio tão cuidadoso que até os passos pareciam pedir licença.
    Estabelecendo um cenário contemplativo, onde o tempo parecia permitir que o passado se infiltrasse no presente.

     A rua continua lá. A esquina também. E às vezes, quando passo por lá, sinto tudo de novo. Como se o tempo estivesse apenas esperando que eu voltasse.
     Onde hoje só mora o acaso, veio o perfume, do nada, feito brisa que decide enfeitiçar, passou por mim, doce, familiar. E como se obedecesse a um roteiro secreto, de repente uma música começou a tocar. Veio de algum bar boêmio. Era aquela velha canção que a gente nunca admite gostar, mas canta inteira quando acha que ninguém está ouvindo.

    E então, foi como se o tempo se curvasse.

    Eu lembrei. De nós dois... Do seu inebriante perfume, naquela noite em que a cidade parecia conspirar a favor, silenciosa, cúmplice, suspensa entre promessas.

    Ali estávamos. Entre risos baixos, conversas partidas pela metade, aquele jeito desajeitado de quem ainda não sabe se pode pegar na mão ou só o olhar. Estávamos ali. Tenho certeza. Lembro do tom da sua voz, da curva do seu corpo, até do seu sorriso, de como você me olhava como se o mundo coubesse inteiro entre uma palavra e outra. E isso bastava.

    Mas juro, juro mesmo, que não me lembro com que roupa estávamos vestidos.
    Talvez porque, naquela noite, tudo que vestíamos era o sentimento. Era desejo disfarçado de timidez. Era o frio na barriga travestido de coragem. Era o arrepio que nascia do lado de dentro.

    A rua continua lá. A esquina também. A música deve estar perdida em algum vinil velho, e o perfume talvez nem exista mais. Mas quem sabe, numa outra noite qualquer, tudo volte como se nunca tivesse ido.

     Incrível... Só não lembro da roupa que vestíamos.

    Talvez seja isso que o cérebro faz com os detalhes, guarda o essencial e joga o resto na caixa de "tanto faz". 

     Mas será que o essencial é mesmo o que a gente lembra, ou o que a gente esquece devagar?


     Por Alfredo Guilherme 


Poetizando...Vestígios e Cheiros do amor...


     Vestígios... 

    Ainda há você em tudo... Na dobra do travesseiro, no silêncio que pesa quando a noite cai.   
    A cama, moldada pela tua ausência, insiste em guardar teu formato, como se o tempo não tivesse coragem de apagar o que fomos.

    Meus lábios, mesmo secos de saudade, ainda sabem teu gosto. É uma memória que não se dissolve, um eco íntimo entre o toque e o desejo.

    O lençol carrega teu cheiro, não aquele que se compra em frascos, mas o que nasce da pele, da respiração entrecortada, do calor que se espalhava entre nós.

    É tua assinatura invisível, gravada em cada canto onde o amor se fez corpo. Vestígios. Não são lembranças, são provas. De que o que houve, ainda há.

    Cheiros do Amor...

    O amor tem cheiro de saudade, que se esconde na roupa esquecida.

    Tem a essência da presença, pele e respiração que não cabem em frascos.

    Às vezes é doce como mel, às vezes incenso ardente de desejo.

    Pode ser brisa de ternura, café fresco, flor no quintal, ou névoa de mistério no perfume de quem passa.

    E mesmo quando o tempo insiste em apagar, ele deixa fragrância de eternidade, como se amar fosse respirar o infinito desse perfume.


    Por Alfredo Guilherme


quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Quando o Desejo Vira Verso…


 ……………………..

    Há… minha linda… 

    Teu nome já é convite, suspiro antes do toque, promessa que se cumpre na pele.

   Você chega como quem não pede licença, mas ocupa todos os cantos do meu corpo.
   E o mundo, por instantes, se resume ao teu hálito quente na minha boca.

   Teu olhar, lâmina e abrigo corta minhas defesas e costura meus desejos com a linha invisível da tua entrega.

   No teu abraço, não existe metade, não existe talvez.
   Só a certeza úmida e ardente de que o amor, com você, é verbo no presente.

   Um convite, a tua pele nua, nela eu descubro o mapa do prazer.
    No teu toque acende o fogo da paixão, que não quero apagar.
   Em ti, a entrega é o próprio orgasmo do amor.

    E quando a madrugada se despede, ainda posso sentir em mim o perfume da tua coragem de me amar sem freios.

     Por Alfredo Guilherme


    Que seja assim…

    Se é pra falar em sexo com poesia…

   Então venha…

   Deixa eu escrever um conjunto de versos de um poema, e ler seus desejos na ponta da língua.

    A gente não precisa combinar rimas, porque nossos corpos já falam o mesmo idioma.
    E quando o silêncio cair… que ele seja só a pausa entre um verso e outro.

    Se é pra falar em sexo com poesia…
    Então quero que nossos corpos sejam rimas livres, onde cada toque seja um verso, 
e o final… e a gente escreve gemendo.

    Se é pra falar em sexo com poesia…
    Quero que sua pele seja meu papel.
    E do suor dos nossos corpos saia a tinta, e cada letra seja escrita com o ritmo quente dos nossos corpos.
    Que o ponto final só venha quando o silêncio for tão profundo que até a respiração vire verso.

     E se o silêncio for só o começo de outro poema?

    Por Alfredo Guilherme




quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Desde que te encontrei…

 


     Você me ensinou que florescer não é só esperar o botão da flor abrir-se ao mundo, mas abrir o coração para alguém.

     E foi nos teus olhos, que aprendi viver a primavera do afeto, estação onde tudo em mim, ganhou nova cor.

     Com você, entendi, que amar é deixar-se ver por inteiro, é confiar a alma como se fosse jardim, com raízes expostas, com brotos de esperança, com cicatrizes do inverno.

     Desde então, tudo em mim se transformou…
     Minhas raízes cresceram mais firmes, porque se encontraram na tua presença.
      E meus galhos, mais leves, porque já não carregam o peso da solidão.

      Você é sol, é chuva mansa, é o tempo certo que eu esperava.

      Contigo, florescer não é impossível…
      É paz…

      É amor que cresce enraizado na felicidade.


     Por Alfredo Guilherme 



sábado, 9 de agosto de 2025

Crônica: O Atalho dos Apaixonados Apressados…

 


     Tem gente que, ao encontrar alguém, já quer ir direto pro “felizes para sempre”.
     Mal trocou três mensagens, e já tá sonhando com café da manhã de domingo e escova de dente no mesmo copo.
     Quer o beijo, o drama, o sexo e a superação… tudo num só fim de semana.
     Amor, às vezes, vira pressa. E a pressa tem o pé ansioso e o coração tropeçando em momentos difíceis.

     A gente esquece que antes de correr, precisa aprender a andar de mãos dadas juntos.
     A conversar sobre bobeiras, a rir de graça, a se irritar com a diferença e, mesmo assim, continuar nessa pegada.
     Porque amor não é só chegada. É percurso.
     É o caminho até sei lá, é que faz o final valer a pena.

     Mas somos filhos da urgência.
     Queremos pular o capítulo da dúvida, da insegurança, da rotina.
     Queremos o “grande amor” sem passar pelos “pequenos incômodos” e isso, meu caro, não existe.

     Tem beijo que só faz sentido depois do toque das mãos e de algumas conversas afetivas, mais intimas.
     Tem abraço que só encaixa depois de uns silêncios compartilhados.
     Tem amor que só floresce depois da paciência mútua de não desistir na primeira escorregada.

     Amar com intensidade, sim. Mas com profundidade também.

     Porque correr demais pode nos fazer perder os detalhes.
     E o amor mora nos detalhes, na forma e no jeito que sorri quando não tá vendo, 
a dor do outro e no silêncio respeita sem precisar entender tudo.

     Às vezes, a gente acelera porque tem medo.
     Medo de perder, medo de não ser suficiente, medo de amar sozinho.
     Mas o amor de verdade… não se assusta com o passo lento.
     Ele caminha junto. Ele aprende a andar com os sentimentos da gente.

     E talvez, o segredo não seja correr. Seja caminhar ao lado.
     E quando for o momento certo…
     Correrem juntos na mesma estrada.


     Por Alfredo Guilherme


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Crônica : Meu Amor, Minha Cachaça & Meu Eu Interior...

 


     O bar da esquina nunca foi só um ponto de fuga, na verdade é quase um confessionário emocional, um espaço marginal, onde a vulnerabilidade encontra abrigo.
    Alguns entram em igrejas, outros em clínicas. Tem quem vá pro mato, ou pra terapia.
     Mas há quem prefira aquele bar da esquina, com azulejo gasto, cheiro de gordura honesta e trilha sonora de samba que já levou muita dor embora no refrão.

      Esse personagem é alguém simbolizando a metáfora do afogamento das emoções. enchendo o copo pra calar as vozes da consciência.

      Entrei naquele boteco como quem escapa de si mesmo, esperando que o álcool dissolvesse a memória do surtos que tive pela vida, e hoje eu quase tive mais um.

     Aqui estou eu… mais uma vez, sentado na mesa que já ouviu mais perrengues da vida do que qualquer terapeuta.
     Eu em uma crise de tudo e de nada… dessas que fazem o peito parecer menor que o caos que mora dentro dele.
     Cada cerveja que eu pedi veio acompanhada de um quebra gelo, com a melhor cachaça, parecendo  que veio acompanhada de um episódio novo do podcast... “Eu Aqui Sem Filtro”. 
     Em alguns momentos eu ali, pensava no amor que me escapou numa piscada de olhar, em outros momentos, lá estava eu discutindo mentalmente o preço da liberdade emocional como se fosse um economista do coração. 
     E o pastel ?… Veio apimentado, recheado de carne moída e epifanias uma sobre como meus relacionamentos se pareciam com minha conta bancária…  instáveis, mas sempre tentando render algo.

     Entre goles e tira gosto, percebi ligeiramente que eu estava acompanhado, na cadeira ao lado tinha um estranho… Um… Cara comum, olhar atento, ouvidos tão abertos quanto meu coração naquela noite. 
     O bacana… Foi que ficamos conversando por horas. Ele não me julgava, só refletia. 
     Eu falava sobre meus fracassos, ele devolvia perguntas precisas.    
     Quanto mais eu bebia, mais a presença dele fazia sentido. Até que a combinação de cerveja + cachaça + cerveja = é igual a bexiga gritando pra aliviar.

     E foi só quando eu fui ao banheiro... Encarei aquele espelho mofado sob luz fluorescente, que eu percebi... "Que o estranho era eu"... Mais lúcido, mais honesto e mais inteiro.
    Era como se, entre um gole e outro eu tivesse atravessado a porta do auto-engano.

     Fui ao boteco pra esquecer... Mas saí lembrando quem eu sou.

     Só então entendi... não era o boteco que me curava. Era esse encontro “comigo mesmo”, entre um gole e outro de respeito próprio.

     E se todo mundo carregasse um “estranho simpático” dentro de si? 

     Talvez o mundo seria um pouco menos ruidoso e os bares, esses sim, seriam ainda mais sagrados, seriam uma defesa poética da imperfeição.

      Porque nem todo aprendizado vem no divã, nem toda cura é asséptica. 

      É sobre buscar anestesia, e encontrar revelações.

     Às vezes, ela vem entre o tilintar dos copos e uma embriaguez recheada de verdades.     
    
        Por Alfredo Guilherme


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Crônica poética — “Um Brinde à Liberdade com Gelo e Ginga”

 


       Que tal dar um susto na pobreza?

     Colocar um terno emprestado, fazer cara de quem entende de ações e falar “on the rocks” com sotaque do subúrbio. Entrar num bar chique de Manhattan, pedir um uísque caro como quem pede água da bica, e brindar à ancestralidade com olhos que nunca se curvaram ao dólar.

     Mas, quer saber?

     A gente prefere mesmo é torcer pelo time de coração e brindar mesmo é em Copacabana.
     De chinelo, de samba, com o sol lambendo os ombros e o garçom ranzinza dizendo que não tem fiado, mas tem afeto.

     Porque a gente já entendeu que luxo mesmo é rir com todos os dentes, mesmo quando a geladeira faz eco.
     É brindar com vinho nacional de uva brasileira e suor de trabalhador.
     É fazer do bar da esquina o nosso Madison Square Garden emocional.

     Podíamos querer tudo importado, mas a verdade é que a gente gosta é de fazer do improviso uma arte, e da mesa de plástico do quiosque um banquete com vista pro mar.

     O Brasil tem suas dores, suas fomes, seus buracos...
     Mas tem também um jeito insolente de existir, de não pedir licença pra ser alegre, de resistir com batuque, beijo de língua e frase de efeito, contra falsos patriotas brasileiros, que usaram bone vermelho com essa frase... Make America Great Again…ainda bem que o nosso pais não precisa disso ele já nasceu grande.

     Não precisamos de aprovação estrangeira.
     Não precisamos de permissão pra brindar com o que nos pertence, nossa terra, nossa fala, nossa maneira torta e maravilhosa de ser povo.

     Se for pra dar susto na pobreza, que seja com risada escandalosa, com beijo roubado num boteco e um brinde feito com copo de requeijão.

     Porque somos esse Brasil brasileiro... Um lugar de democracia… Com muito orgulho, com muito amor, e uma tremenda preguiça de fingir que queremos ser qualquer coisa além de nós mesmos.

     Tim- Tim… Saúde.


     Por Alfredo Guilherme 



quinta-feira, 31 de julho de 2025

Entre o caos e o café da manhã, eu me reinvento...

      


      O meu amanhecer virou um teatro existencial!...Vou ilustrar a bagunça tranquila do início do meu dia... 

     Uma mesa com migalhas de pão, uma caneca meio cheia, um sol preguiçoso entrando pela janela. 
     Misturo pequenas frases reflexivas sobre o meu cotidiano com desenhos leves expressivos, no papel da vida e talvez até cômicos, com um pensamento flutuando em forma de nuvem.

     O óculos esquecido no canto da mesa se sente invisível... e da a sua alfinetada... “Só lembram de mim quando querem enxergar melhor o que ignoraram...” 
     E apesar da lente embaçada, ainda me faz enxergar o afeto nos gestos distraídos.

     Entre o caos e o café da manhã, eu me reinvento. 
     As migalhas são memória, pequenos fragmentos de ontem sobre a mesa de hoje. 
     A caneca meio cheia não é sinal de otimismo, é só o tempo ainda em repouso.

     A colher observa tudo com a paciência de quem já viu muitas manhãs se desdobrarem em promessas adiadas.
     O despertador, coitado, já quis ser poeta... mas só consegue me irritar ao despertar. 

     Há dias em que os pensamentos flutuam, densos e disformes, no céu do travesseiro. 
     O sol se espreguiça devagar, não quer ser luz, quer ser abraço.

     E nessa bagunça silenciosa, tudo conspira para que eu seja um novo eu... Com novo olhar para a mesma janela. E um longo suspiro antes do primeiro gole. 

    Embalado pela rotina, esticado pelas vontades, acordado para comer uma torrada filosófica a beira do prato, "Será que sou mais torradinha quando penso demais? ".     

    Me questiono, enquanto a manteiga escorre como pensamentos não ditos.

    Do outro lado da mesa, o celular dramático, já me chamando para o monólogo exagerado de bom dia, no WhatsApp.

    O celular não me representa! Eu sou mais do que postagens ou mensagens... sou emoção, sou exagero, sou papel querendo ser poesia!.

    Enquanto isso, o leite decide se revoltar contra a gravidade, deixando seu exagero no fogão, e já na xícara, começa fazendo arte no café com desenhos abstratos que só quem é ligado as artes entende.   

    A chave filosófica, pendurada ao lado da porta, murmura entre suspiros de metal... “Abrir caminhos exige coragem". E um bom molho de possibilidades...” 
    Ela observa a vida acontecer, desejando ser porta-voz de novos destinos. Pois lá fora, o mundo respira, ainda sonolento, no que ainda é possível.

    Cada detalhe revelado no meio da trivialidade do meu amanhecer, há uma coreografia íntima entre humor, filosofia e uma leve melancolia saborosa...  Esse é o meu amanhecer... 

     

      Por Alfredo Guilherme



terça-feira, 29 de julho de 2025

Crônica : Desejo com Coerência…


       Quando o ”Amor Chega Depois”…
      Você já teve uma história?
      Subiu ao altar entre promessas e flores, fez juras de eternidade com o coração cheio de amor e os olhos brilhando. E cá entre nós… aliviada por sair dos desejos contidos, chegar pro finalmente… devidamente autorizada…

     Talvez teve filhos, talvez silêncios.
      E talvez até uma dor que mora ali, quietinha… num canto da memória que só você conhece.

      E então… alguém chega depois. Não pra substituir o que foi.
      Nem pra competir com o que marcou a sua vida. Ele chega devagar, na maciota.
      Como quem entra num templo sagrado, respeitando cada vela apagada, mas com vontade de acender uma nova luz.

      Amar alguém depois dos 60, 70… mesmo ele não começado, como antigamente num assobio atrevido de fiu-fiu, esquina, nem num flerte no baile de formatura... Ou receber flores com um pedido de namoro, depois de você passar por alguém na paquera na praça em um “footing”exalando o seu perfume atemporal, Chanel No 5. 

      Infelizmente teve também o atalho do horror, com casamentos arranjados, ou casar pra fugir da tirania dos pais.  

      E… Hoje, é comum, o amor chegar por mensagem, com um "match" tímido e uma foto de perfil cuidadosamente escolhida.
      Os tempos mudaram… mas o amor?
      O amor, se bem-vindo, permanece.

      É nesse depois que mora a delicadeza. O corpo já tem memória de outros corpos, a pele já conhece as linguagens do afeto, e do sexo, e o coração, mesmo com receios, ainda quer aprender a batucar diferente. Sem a regência de familiares que acham que a idade impede o raciocínio logico.

      E então você se permite. Desejar com leveza, sem precisar provar nada.
      Sentir sem performance. Beijar sem pressa, se entregar por inteira.
       Entender que a libido, agora, floresce com afeto mútuo e com aquela paciência bonita de quem sabe que tudo que é bom… tem que ser vivido intensamente.

       Não se promete fogos de artifício todos os dias. Mas se oferece em abraços que não temem o tempo, e silêncios que aconchegam mais que palavras.

       Se um dia a saudade de um amor antigo visitar você, tudo bem.
       Esse novo alguém vai segurar sua mão, e escrever, junto, um novo capítulo,  com menos urgência e mais poesia.

      Porque  se o seu corpo ainda quiser dançar, mesmo que mais devagar, você vai encontrar com esse alguém, a música certa, respeitando cada passo de 2 pra cá e um pra lá.

     Porque amar, depois de tanto, é saber que o amor não precisa mais correr. Só precisa ser o mais intenso que o esperado .

     E quando for... vai ser com tesão manso, até atingir o ápice do afeto sincero e ternura sem data de validade.

   

      Por Alfredo Guilherme 


domingo, 27 de julho de 2025

Crônica: Somos passáveis até que ponto ?…

 


      Passável até que ponto?…
     Tem gente que diz com a melhor das intenções… - Ah, mas você nem parece...
     E aí, o elogio vira espelho rachado.
     Porque o que seria "parecer"?.. Ficar perecendo como quê? Não aparentar a idade? É isso… 
     O que esperavam que eu parecesse para ser quem eu sou?

     A sociedade gosta do que ela chama de “Passável”.
     Quem tem traços que não incomodam… Cor da pele que “dá pra disfarçar”… Chamar o preto de pele mais clara de moreno, Cabelos que, alisados, parecem mais obedientes ao pente e ao olhar.

     Gosta de quem é preto, mas “não tanto”.
     Gosta de quem é nordestino, mas com o sotaque polido.
     Gosta de quem é indígena, mas usa roupas da Zara.
     Gosta do corpo fora do padrão... Desde que ele se arrependa e vá pra academia.

     Aceita quem tem “defeito”, mas que já esteja tentando “consertar”.
     Aceita a dor, desde que não grite.
     Aceita a diferença, desde que seja discreta, domesticada, digerível.

     O problema é que o afeto que vem do “passável” não é afeto… É concessão.
     É a migalha que se joga no prato de quem sempre teve que comer calado.

     Ser passável é ser aceito com desconto… É ser quase humano, desde que não reclame demais, não lembre demais o que já sofreu, não exija respeito demais, só o mínimo socialmente confortável.

     Mas ser aceito assim é também morrer de pouco em pouco.
     Porque se você precisa calar uma parte de si pra ser amado, esse amor não é por você… É pelo seu disfarce.

     A sociedade elogia o que não ameaça. Diz que ama a diversidade, mas só se ela for "instagramável".
     Tolera a diferença no discurso, mas exige “harmonização” estética na prática.

     O corpo não mente... Nem a alma.
     Ela engasga, mesmo quando você tenta engolir.
     Ela resiste, mesmo quando dizem que "não é pra tanto".

      E um dia a gente entende que passar por aceitável não vale o preço de passar por invisível.
     A aceitação plena vem com o risco do incômodo.
     E incomodar, às vezes, é o maior ato de amor-próprio que alguém pode cometer.

     Mas chega uma hora em que o amor-próprio cansa de pedir licença. E entra com tudo. E não pede desculpa por existir.

     Porque o mundo só muda quando alguém, sem pedir desculpas, ocupa seu espaço com a própria pele. Com cabelo rebelde, com sotaque forte, cor, raça, voz, peso, volume, riso, tatuagem e cicatrizes da vida.

      O afeto verdadeiro começa quando ninguém precisa se diminuir para caber.

    E a revolução acontece quando alguém diz, sem medo…
"Me veja por inteiro. Ou me deixe passar.”


     Por Alfredo Guilherme