Que merda… Deixamos o tempo passar… E o passado me traz lembranças… Infelizmente não somos mais, os inocentes de Copacabana. Aqueles que trocavam sorrisos tímidos e dividiam um Biscoito Globo na areia, e matavam a sede com chá mate e limão, e tínhamos a certeza de que a vida caberia inteira entre um mergulho e outro. O tempo, ah, o tempo... esse implacável cronista, passou como um vento de ressaca.
Lembro-me daquela manhã eterna, quando o sol nascia dourando o mar e a gente acreditava que a inocência era um beijo ou abraço forte, à prova de qualquer adeus.
Depois, veio o cair da noite a vida adulta, as escolhas, as distâncias que se impõem sem que a gente perceba. Anoiteceu para nós de um jeito silencioso, sem alarde, como o sumiço gradual das estrelas quando a poluição luminosa da cidade avança.
E então, para minha surpresa, o sol retornou… Amanheceu, mas não com o mesmo sol da juventude, e sim um sol mais maduro, mais tímido, que ilumina as linhas de expressão no espelho e as saudades no coração.
Eu olho para a orla, que ainda tem a mesma curva, mas que hoje me parece imensa, vazia de um certo sorriso.
E a pergunta, a única pergunta que realmente importa, ecoa em cada onda que quebra na saudades… "Me diz por onde você anda?"
Éramos felizes. Não uma felicidade turbulenta, de fogos de artifício, mas aquela suave, de brisa constante, de saber que você estava ali, lendo um livro na nossa varanda imaginária. Eu era feliz de ter você como meu ponto fixo num mundo que girava rápido demais.
O espelho de hoje mostra uma versão de mim marcado pelas batalhas do tempo, talvez um pouco mais calejado, mas infinitamente mais sedento de uma verdade simples. E é por essa verdade que eu te chamo ao vento.
Não me importa se o sol de Copacabana revelou rugas em seu rosto, ou fios de prata em seus cabelos. Eu quero te rever, quero tocar as marcas desse tempo que nos separou. Porque as rugas, meu bem, não são cicatrizes de derrota… são a caligrafia da vida em sua pele.
Quero te encontrar e descobrir se o seu riso ainda tem aquele timbre de maré cheia, e se o seu olhar ainda consegue me trazer de volta para a areia onde éramos apenas nós dois.
Esperando as luzes do hotel Copacabana acenderem. Não para sermos os mesmos inocentes, mas para sermos, finalmente, os amantes resilientes que o tempo forjou.
Por Alfredo Guilherme














