segunda-feira, 31 de março de 2025

Crônica: As Feridas Silenciosas…


      Há uma caixa em cada um de nós. Não é daquelas organizadas, com divisórias e etiquetas. É uma caixa de madeira antiga, empilhada num canto empoeirado da alma, onde jogamos tudo aquilo que preferimos esquecer, são, as nossas feridas.

      Pensar nessas feridas esquecidas é como mexer em um baú de memórias guardadas no sótão. Alguns itens podem trazer lágrimas inesperadas, outros, sorrisos nostálgicos. Porém, há aqueles momentos de escuridão, tocar em certas lembranças machuca mais do que se possa pensar. 

      Às vezes, achamos que ignorar é o melhor caminho. Fechamos os olhos, viramos a chave e guardamos a dor num lugar onde parece ser inalcançável. Mas as feridas esquecidas não desaparecem elas esperam. Podem surgir como um eco em um silêncio incômodo ou como uma sensação de peso quando tudo deveria estar leve.

      E então a pergunta é… Por que mexer naquilo que já foi enterrado? Talvez porque evitar certas feridas seja como tapar uma rachadura em um muro que está prestes a desmoronar. Pensar nas dores esquecidas é como caminhar sem uma lanterna no escuro. Não se trata de reviver o sofrimento, mas de entender como ele conseguiu moldar quem somos.

      Encarar as feridas ocultas pode ser assustador, mas também pode ser um ato libertador. Quando abrimos a caixa, percebemos que há um espaço para a cura, para reorganizar, para nos transformar. Nem todas as dores precisam ser revisitadas, é verdade, mas ignorar sistematicamente o que nos incomoda pode ser um erro.

       Assim, talvez o segredo seja aprender a olhar para essas feridas com gentileza. Reconhecer que o passado não muda, mas a nossa relação com ele sim pode mudar. Abrir a caixa, só se você estiver pronto, ou é melhor deixá-la ali, no cantinho escondido da vida, se o tempo certo ainda não chegou.

       Na verdade, as feridas esquecidas não são monstros escondidos, são partes de nós que esperam ser vistas, ouvidas e, quem sabe, finalmente, serem aceitas.


      Por Alfredo Guilherme 





5 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto reflexão total

Anônimo disse...

Uma reflexão diária parabéns!!!

Anônimo disse...

Lindo texto todos temos estas tão indesejadas recordações mas o difícil é colocar na caixa, pra guardar e esquecer, algo que está mais vivo do que, Você Mesma

Anônimo disse...

Esse texto é realmente pontual parabéns!!!

Dalidaki disse...

Meu lindo, as coisas ruins não são esquecidas e as coisas boas devem ser sempre lembradas pois a vida é assim:
Nada é perfeito.