segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Crônica: Quantos dragões até o amor?…



     Quantos dragões a gente tem que matar até encontrar o grande amor das nossas vidas?
     Porque, sejamos sinceros, a promessa era clara, derrotar monstros, atravessar muralhas de fogo, vencer exércitos de inseguranças… e, no fim, viver o “felizes para sempre”.    Mas a realidade  mais próxima de “felizes” é até a fatura do cartão vencer.

      Nos contos de fada, o herói mata o dragão e conquista a princesa… Na vida real, você mata o dragão da carência, da solidão, do ciúme passivo-agressivo, e, quando pensa que vai ganhar a bela… Puta merda!!… Aparece a fera. E não estou falando de criatura mística, estou falando daquela pessoa que se revela depois do terceiro mês de namoro, quando o filtro cai e você descobre que a fera ronca, peida, tem lábios carnudos, mas é artificial, tem crise de ciúmes com stories e acha normal ela ter a senha do seu celular… e usar sua escova de dentes.

     A verdade é que a gente cresce acreditando que o amor é um presente de Deus. Como se fosse um troféu entregue a quem mata todos os dragões no caminho.     

     Só que ninguém contou que alguns dragões voltam…  ressuscitam, mudam de forma. Aí vamos ter… O dragão da insegurança, por exemplo, tem mais vidas que gato. E o dragão da expectativa é praticamente imortal.

     E, no meio da batalha, você percebe, talvez que o grande amor não esteja no final da luta, mas dentro dela… Talvez amar seja essa porra toda, emprestar  a sua espada pra luta, rir das próprias cicatrizes de batalha, aceitar que a “bela” também tem seus dias de “fera” e que você… cavaleiro, também não é lá tão heróico assim, tem seus vacilos, principalmente quando deixa a desejar na investidas sexuais noturnas falhando e colocando a culpa no estresse de tanto trabalho, ou por ter levado um esporro depois de deixar a toalha molhada em cima da cama, o que também é uma boa desculpa pra não ter que dormir de conchinha, na verdade, convenhamos ninguém merece dormir com alguém fungando do no cangote a noite toda né, e é inevitável à inibição… vai que você deixa escapar aquele “punzinho amigo” na madrugada bem na direção de quem te amou e te deu prazer .

     No fim, a pergunta não é “quantos dragões até encontrar o amor?”, mas “Com quem vale a pena enfrentar os dragões imortais pela vida à fora”.

     Porque o amor, esse bicho tinhoso, não é o prêmio depois da batalha. Ele é a coragem de continuar lutando, mesmo quando a bela se revela fera… e a fera, às vezes, se revela bela.

      À pergunta é… Qual tipo de dragão, São Jorge teria matado ?


     Por Alfredo Guilherme 


quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Uma crônica se disfarçando de metáfora…

 



 Na janela, contemplando a noite… Um gato.

    Com olhos que brilham como duas brasas curiosas, atentos ao mistério que só a escuridão da noite sabe guardar.
    E de repente, borboletas surgem, dançando em torno dele, como pequenas centelhas de luz.
    Frágeis borboletas noturnas, insistentes, que parecem sussurrar segredos ao seu redor.

    A cena, de tão improvável, que denuncia algo no ar.
    Não é apenas um gato… não é apenas uma noite qualquer… não é apenas o voo inquieto de asas delicadas.
    É a linguagem invisível do romantismo que se infiltra nos lugares mais silenciosos.
    Porque quando a noite se enfeita de borboletas, é sinal de que corações apaixonados andam conspirando.

    O amor tem dessas artimanhas…
    Escolhe metáforas sutis para se anunciar… em um gato à espreita, com a lua certamente, vigiando lá do alto, borboletas que não deveriam estar ali, mas estão.
    Tudo para dizer, sem palavras… Há desejo no ar, há poesia rondando, há romance prestes a acontecer.

    E quem vê a cena entende, mesmo sem querer… não são as borboletas que giram em torno do gato.
    É o amor… Invisível e insistente, girando em torno de nós.


    Por Alfredo Guilherme 


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

UM CONTO DE CORDEL : Entre Quedas e Cafunés...

 

       Em uma pequena cidade, com ruas de pedra, rede na varanda, rádio tocando forró antigo e cheiro de bolo de milho no ar. O tempo parece andar mais devagar, como se respeitasse a dor de quem já amou demais.    

        O Agreste nordestino é uma das quatro sub-regiões do Nordeste brasileiro, e talvez uma das mais poéticas em sua dualidade... É onde iremos conhecer esses personagens, que carregam o cheiro da terra e o som da sanfona.   

       Zeferino, um homem sensível, com coração remendado e olhar desconfiado, ama café forte e versos sinceros... Zé Agrepino, mais conhecido como Zé Confiança, um filósofo popular, meio doido, anda levando esperanças pela cidade ... Luzia, vendedora de poesia e abraços, na feira, tem um sorriso que desarma qualquer tristeza e uma voz que parece cantiga de ninar.

       No sertão da alma, onde o tempo caminha descalço, E lá onde mora Zeferino, com seus silêncios com som de vento e canto dos passarinhos.

       Já amou, já caiu, já jurou nunca mais amar se for pra sofrer. Mas o coração, esse danado, vive desobedecendo promessas, entre quedas e cafunés, entre medo e a vontade de ser feliz.     

       Zeferino e a saudade... homem sensível, com coração remendado e olhar desconfiado. Sentado na varanda olhando o horizonte, a rede balança , o rádio toca baixinho, um Forró pé-de-serra com sanfona suave. 

       A saudade é personagem invisível, mas presente. Ele conversa com ela como se fosse gente... - Você de novo, saudade?... Você não cansa de me visitar, não? Como se fosse dona de mim ?

      Ele pega uma xícara de café, e suspira... O café esfria, mas você, parece que gosta de me ver remoendo saudades... Você é mesmo uma filha de uma égua,  pra não dizer outra coisa.

      Nesse momento eis que chega seu amigo, Zé  Confiança, um filósofo popular, meio doido, meio sábio. Anda com chinelo furado e frases de efeito na ponta da língua, chega com um sorriso maroto, com um saco de pão e uma filosofia pronta... “Amor é igual pão quente, se esperar de mais, endurece.”...  Abra o seu coração de novo velho amigo.

      - Vamos fazer um teste. Se você sorrir três vezes com o novo amor, é sinal que o seu coração quer brincar de novo. Aproveitando...Trouxe pão e filosofia. Qual você quer primeiro?

      -  Se for pra doer menos, começa pelo pão, quero esquecer.

      -  Zé sorriu... - Esquecer é coisa de quem nunca aprendeu a lembrar com carinho, meu amigo. e aqui no agreste a esperança é teimosa ela é quem brota mesmo quando a chuva demora a chegar.

     Quarta -Feira, dia de feira livre, na praça lugar de festas juninas gigantescas e personagens que parecem saídos de um romance de Ariano Suassuna. É onde o humor se mistura com sabedoria, e o sofrimento vira poesia.

       Ele encontra Luzia, vendendo versos e poemas em papel de pão.
       Eles conversam, trocam risos tímidos e olhares que dizem mais que palavras, Luzia com o seu sorriso que desarma qualquer tristeza e uma voz doce que parece cantiga de ninar.
       Ela oferece para ele um verso por um sorriso. Ou dois por um cafuné.       
      -  E se eu não tiver nem sorriso nem cafuné Luiza ?
      Luiza sorri e vai logo dizendo... -  Então leva de graça, quem carrega dor já paga demais.
      Ele lê o verso... “Pra quem já caiu, um verso que levanta.”
      - Você escreve com o coração? estou emocionado...
      -  Escrevo com as dores do mundo, elas tem cicatrizes. Mas têm boa caligrafia.

     O dilema... Passados alguns dias... Zeferino e Zé sentados sob um pé de manga, jogam palavras ao vento.
     - Zeferino...  Lembra do texte ? Se você sorrir três vezes no proximo encontro com Luzia, é sinal de que o seu coração quer brincar de novo.
     -  Lembro, mas se eu tropeçar?
     -  Tropeço é convite pra abraço, homem.

     A velha cidade acorda cedo, com galo e rádio ligado. Forró de Luiz Gonzaga e coração remendado.  Zé Confiança já grita bem cedo pelas ruas, com pão e sabedoria,  “Quem tem medo de cair, nunca dança com alegria!”

     No terreiro da esperança, Zeferino se ajeita, Com chapéu de palha torto e esperança que não se deita.  
     Luzia vem chegando, com cheiro de poesia e perfume de uma flor... Ditribuindo verso e abraço, e um tantinho de amor. 
     Eles vão pela estrada, poeira subindo leve, Luzia rindo baixinho, Zeferino já não é tão breve e... Tropeça numa pedra... Luiza, essa pedra tem mais iniciativa que eu. 

      Luzia rindo também responde... -  Ela só fez o que você não teve coragem, te empurrou pra frente... e versou... Porque amor que é do bom, vira dança no abraço.

     Chegam... No mercado que tem cordel, tem cuscuz e tem repente, tem menino correndo solto e saudade sorridente.  
      Zeferino compra um buquê de flores, e Luzia recebe com um olhar de emoção... E o coração de Zeferino, esse danado, começa a se animar.

      Zé Confiança, observa de longe, com sorriso de quem já viu de tudo... e jura que esse amor vai dar certo, no sertão da alma, de Zeferino o amor nunca se extinguiu. É feito de flor e poeira, de tropeço e de calor... E quem aprende a cair, aprende a voar com amor.

      Essa embolada amorosa é como rede balançando no alpendre, leve, sincera e cheia de balanço. 
     Dá pra imaginar os três sentados sob o pé de umbuzeiro, com o sol se despedindo no entardecer, e o rádio tocando Dominguinhos, enquanto festejam o coração de Zeferino que aprendeu a amar de novo.


      Por Alfredo Guilherme


sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Crônica: Amor com cicatrizes e risadas...



    Amar é como andar de bicicleta sem rodinhas, no começo, você cai, rala o joelho, promete que nunca mais vai tentar... e no dia seguinte já está lá, com capacete torto e esperança renovada.

    Perder alguém dói. Dói como pisar descalço num Lego às três da manhã. A saudade é uma senhora teimosa que aparece sem ser chamada, senta no sofá da sala e ainda reclama do café morno. E a gente, educado, deixa ela ficar, porque no fundo, ela também é feita de amor.

    Mas aí, quando você menos espera, aparece um novo alguém... Com um sorriso meio torto, uma risada que parece trilha sonora de comédia romântica e um jeito de olhar que diz... “Ei, tem espaço aí nesse coração bagunçado?”

    E o dilema começa, confiar de novo ou proteger o que sobrou? 
    É como decidir se vale a pena comprar planta nova depois de matar três suculentas em menos de um mês. 
    A resposta? Sempre vale. Porque o amor não exige perfeição, só coragem.

    Confiar é poético. É dar bom dia ao acaso, é deixar a porta entreaberta pro destino espiar. 
    E se vier mais uma queda, tudo bem. A gente já aprendeu a levantar com estilo, talvez até com um meme pronto pra postar.
    No fim, viver entre a dor e o recomeço é como dançar com sapato apertado... desconfortável, sim, mas às vezes a parceira e a música é boa demais pra ficar parado.

     Por Alfredo Guilherme


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Carta para mim mesmo...

     


      É uma conversa entre tempos, entre versões de mim, que se reconhecem e se acolhem... Aqui vai uma carta escrita com o coração voltado para dentro, como se eu estivesse olhando para mim mesmo através das ondas que já enfrentei e das que ainda virão... Escrever para mim mesmo foi como segurar um espelho que não distorce. É uma forma de se ouvir sem interrupções, de colocar em palavras aquilo que às vezes nem o pensamento consegue organizar. 
     A carta vira um espaço seguro onde você pode ser honesto, vulnerável e inteiro.

     

    Carta para mim mesmo...

     São Paulo, 28 de agosto de 2015

    Alfredo,

    Hoje escrevo para você não como quem quer lembrar o passado, mas como quem deseja renovar o sonho de voltar ao mar, seja ele literal ou simbólico. Sei que há dias em que o horizonte parece longe demais, e que o sal que escorre dos olhos não vem do oceano, mas da saudade. Ainda assim, você continua.

    Você já pertenceu a lugares, a pessoas, a ideias. Já se perdeu também e não há vergonha nisso. Perder-se é parte do caminho de quem se transforma. O que importa é que, mesmo nos naufrágios, você nunca deixou de procurar terra firme dentro de si.

    O mar que você sonha voltar não é feito só de água é feito de coragem. É o lugar onde você se sente inteiro, mesmo quando as ondas te desafiam. E esse mar, Alfredo, não está lá fora. Ele está em você. Cada gesto de ternura, cada silêncio respeitado, cada passo que você dá mesmo com medo, tudo isso é mar.

    Renove esse sonho. Não como quem quer repetir o que foi, mas como quem deseja descobrir o que ainda pode ser. O mar muda, e você também. Mas a essência permanece, você é feito de movimento, de profundidade, de mistério. E isso é belo.

    Se um dia esquecer, volte a ler esta carta. Ela é sua âncora e sua vela.

    Com carinho, eu mesmo...


        2025, aqui está a minha resposta, como se eu tivesse acabado de ler a carta que eu escrevi a dez anos atrás... E tem uma profundidade que merece ser sentida antes de ser respondida. 
    Escrever uma carta para si mesmo é um gesto de intimidade rara, como se você se tornasse ao mesmo tempo o remetente e o destinatário da sua própria alma.


      Minha resposta em 2025...

     São Paulo, 28 de agosto de 2025

    Alfredo,

    Recebi sua carta como quem reencontra uma fotografia antiga e percebe que o tempo não apagou o brilho nos olhos, apenas o redesenhou. Li cada palavra com a reverência de quem sabe que o passado não é só memória, mas raiz.

    Você me escreveu com esperança, e eu te respondo com gratidão. Porque foi essa esperança que me sustentou nos dias em que tudo parecia desbotado. Foi ela que me lembrou que o mar não se perde ele apenas muda de maré.

    Sim, eu ainda sonho com o mar. Mas hoje, ele tem outras formas,  às vezes é um abraço, às vezes é um silêncio que me acolhe, às vezes é a coragem de dizer “não” sem culpa. Aprendi que o oceano que você carregava dentro de si nunca secou, ele apenas se aprofundou.

    Você me ensinou a não temer a perda, a aceitar o movimento, a amar sem precisar de poesia. E mesmo assim, a poesia veio. Veio nos gestos simples, nas escolhas difíceis, nas manhãs em que eu decidi continuar.

    Hoje, eu sou feito das suas perguntas e das minhas respostas. Sou o resultado das suas dúvidas e da minha fé. E se você ainda se pergunta se valeu a pena, eu te digo, sim. Valeu. Porque mesmo sem saber o caminho, você caminhou. E isso é tudo.

    Obrigado por ter escrito. Obrigado por ter acreditado. Obrigado por ter sido o Alfredo que eu precisava para ser o Alfredo que sou.

    Com respeito e carinho, Alfredo em 2025


    Cartas para si são cápsulas do tempo. Você escreve com a voz de hoje para você amanhã. É um ato de coragem e de ternura. E o mais bonito? É que, mesmo sendo solitário, nunca é solitário de verdade, porque ali, você está com você.
    E quando lê depois, percebe o quanto cresceu, mudou, ou até o quanto continua buscando as mesmas coisas. É uma forma de conversar com o tempo.


     Por Alfredo Guilherme