sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Poesia...!!!



Por : Marta Solyszko


Quero viver

O que resta dos meus tempos

Sem mornidão nem calmarias

Trocando os pés pelas mãos

O coração saindo pela boca

As lágrimas por um fio

O riso brotando da garganta

O salgado mudando pra doce

O amargo desarranjando o azedo 

Os braços embaralhando outros braços

As pernas confundindo outras pernas

Os dedos dedilhando afetos

A voz segredando desejos

A pele adivinhando arrepios

E um amor descomplicado

Despetalando os dias

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Bom dia …!!

Tenho um amor que não existe

Inventado

Deita comigo a contar carneiros

Não me abraça nem me toca

Vela meu sono madrugada afora

Entrelaça seus dedos em fiapos dos meus sonhos

Acorda comigo quando amanhece

Diz bom dia e vai embora 

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Você não é o príncipe 

que me acordou

Não me salvou da torre

Não chegou num cavalo branco

Sequer me tirou de um jejum de beijos 

Não me arrastou pelos cabelos 

Não me deu um anel de ouro 

Nem uma pedra falsa

Ou um sonho de valsa 

Tampouco um corte de cetim 

Só me fez todas as vontades 

Disse meias verdades 

Quase à meia luz

Sem sapatinho de cristal

Sem carruagem, nem abóbora

Sem herança, nem vintém

Bem devagarinho 

mais ao menos sem pedir licença ou perdão

Se achegou feito um posseiro dentro do meu coração

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Receita de espera

Há de haver uma beberagem

Chá de urtiga mágica, remédio secreto

Tisana de musgos e líquens, 

calda de doces cozido na lua nova,

gotas de orvalho, da Sexta-Feira Santa,

restinho de espuma de onda morta,

último chuvisco do fim do inverno,

aguinha de gelo no fundo do copo.

Pingos das águas de março fechando o verão

Neblina guardada em vidro de gelatina, 

caldinho de pimenta doce, 

pitadas a gosto do pó de pirlimpimpim...

Poeira de estrada sem placas

Pedrinhas de córregos transparentes,

cascalhos de vulcões adormecidos,

Ciscos de galhos quebrados, receitas improváveis, 

incertas na consistência, erradas na manipulação

Duvidosas no resultado,

infalíveis, quem sabe fatais seguras e 

poderosamente de uma vez

ou até devagarinho vão trazer

você pra mim.

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Um comentário:

Dalidaki disse...

. Amei. Continue a escrever. suas poesias...Parabéns.