quinta-feira, 24 de abril de 2025

Caminhar por La Boca é andar dentro de um quadro…



     Benito Quinquela Martín, o artista de La Boca, teve graça, afeto e um toque de lirismo, com aquele jeitinho argentino de ser, pintou com o coração pulsando no mesmo ritmo das águas do Riachuelo, no bairro operário de La Boca, onde nasceu o tango, o suor e a resistência.
    
     Quero que conheçam esse Cara !!!… ele  é tipo o Pelé das tintas… o Maradona dos pincéis… o Messi da aquarela!

     O homem que pintava navio com tanta paixão que até Titanic teria ficado com autoestima pra seguir flutuando! Mesmo com um rombo no seu casco.

     Quinquela nasceu em La Boca, bairro que já vem com cheiro de tango, de churrasco e de tinta guache na parede. La Boca é tão colorido que parece que o bairro tem mais cores que o arco-íris.

      E ele era pobre, viu? Pobre mesmo! Quinquela foi abandonado ainda bebê. Sorte que foi adotado... senão ele teria sido a primeira criança do mundo a pintar com a lágrima no lugar da tinta!

     Mas ele virou artista. E não era qualquer artista não… Era do tipo que olhava pro cais, via um estivador suado descarregando peixe e pensava... “Isso vai ficar lindo em óleo sobre tela.” O homem fazia poesia nas cores de suas telas !.

     Ele cresceu entre o cheiro da tinta das embarcações e o rangido das docas. E foi ali, entre guindastes, marinheiros e barracões de zinco, verdadeiros cortiços, que ele descobriu sua paleta de cores o azul do rio, o vermelho dos telhados, o amarelo das fachadas e o cinza da labuta.

     O bairro era feio? Ele coloriu! As paredes estavam descascando. Ele envernizou com emoção! Se tinha goteira, ele dizia: “Deixa, que essa luz filtrada do teto tem drama… é expressão artística!

     Quinquela foi mais que pintor. Foi arquiteto da esperança. Transformou o "Caminito", outrora uma linha de trem abandonada, em passarela viva de arte e cor. Doou obras, construiu uma escola, um hospital odontológico, e fundou o Museu de Belas Artes de La Boca, onde repousam suas memórias em tinta. Um verdadeiro artista com consciência social.

      E você vê nos quadros dele, tudo com porto, com navio, com gente carregando coisa pesada. O cara era o “Pintor das costas doídas”. 

     Se fosse hoje, iam chamar a suas obra de… “Trabalhadores Portuários com Hérnia de Disco”.

     "Caminito". Sabe aquele bequinho colorido, que quem já visitou ficou encantado, saboreando um Alfajor argentino, onde hoje tem no alto das janelas, mais estátua do Maradona e do Messi segurando a taça do mundial nas mãos, que poste de luz pelas ruas? Pois é, aquilo ali era um verdadeiro muquifo! O homem olhou e pensou… “Dá pra virar cartão postal.” E virou, turistas do mundo todo reconhecem !

     Então, se você for a Buenos Aires não deixe de visitar e conhecer o bairro boêmio de La Boca, e ao ver aquelas casas azul, verde, rosa, amarela e roxa fluorescente… Lembra que não é erro de arquitetura… é pura arte, meus amigos !

     Agora me diz... o homem não teve filho, mas deixou um bairro inteiro de herança. Isso sim é ser pai da arte e avô da cultura!

     E eu digo mais… Se hoje Buenos Aires tem um lugar charmoso, é porque Quinquela passou por lá com um rolinho de tinta e uma alma dançante no compasso do tango portenho.

     E, no final das contas, o mundo precisa mesmo de mais "Quinquelas" e menos gente cinza pelas ruas da cidade com o coração no modo “avião” desligado afetivamente.

     Caminhar por La Boca é andar dentro de um quadro. É ver a cor resistindo ao tempo. E, lá no alto, talvez em algum céu portenho, Benito sorri com seu avental manchado, sabendo que seu bairro continua vivo, dançando no compasso de suas cores.



Por Alfredo Guilherme 



12 comentários:

Anônimo disse...

Um lugar simples mais com muita energia tb recomendo visitar esse lugar obrigado por deixar eu conhecer essa historia artista deste lugar amei o texto !!!!!!

Anônimo disse...

Esse texto é uma verdadeira homenagem poética com alma de tango e pincelada de coração!

Anônimo disse...

O seu texto brilha especialmente por transformar fatos em imagens vivas. O “Maradona dos pincéis”, o “Titanic com autoestima”, o “Pintor das costas doídas”… são metáforas que fazem rir, imaginar e se emocionar ao mesmo tempo.

Anônimo disse...

Você consegue costurar humor e lirismo sem quebrar a reverência que Quinquela merece, isso é raro. Parabéns pelo texto amigo Alfredo !!!

Anônimo disse...

O fechamento do texto então… é de aplaudir em pé: “Caminhar por La Boca é andar dentro de um quadro... Benito sorri com seu avental manchado de tinta.” Poético sem ser piegas. Engraçado sem ser debochado. Um tributo de corpo e alma. Bravo !!!!! cara vc é F.... mesmo um abraço meu amigo Alfredo !!!

Anônimo disse...

Muito bom você misturou suor, tinta e emoção na mesma paleta, do seu texto de um artista genial

Anônimo disse...

Eu não conhecia esse outro lado da historia desse lugar que realmente encanta quando temos a oportunidade de conhecer, seu texto tem uma linguagem é leve, espirituosa, e ainda assim profundamente respeitosa com o histórico desse lugar e a vida inspiradora desse artista.

Anônimo disse...

O texto faz a gente sentir que caminhar por La Boca é, de fato, entrar num museu a céu aberto, onde cada parede tem memória, e cada cor tem suor, ao som do tango argentino. Um passeio realmente inesquecível.

Anônimo disse...

Hoje você se superou, Parabéns você é D ++++++++++++++++++++++++++++💝

Anônimo disse...

Se seu texto fosse um quadro, esse texto estaria exposto na parede principal do museu que ele mesmo fundou. Obrigada por mostrar esse outro lado desse lugar maravilhoso !!!!

Anônimo disse...

Me emocionei com sua postagem 👋🏾👋🏾👋🏾👋🏾

Dalidaki disse...

Vc transmite cultura e grande sabedoria a todos nós. Parabéns