sábado, 3 de maio de 2025

Um conto contado: A Menina e o Caderno Encantado …

    



      Babi morava em apartamento simples em um condomínio, ficava na janela cantando enquanto a chuva com seus pingos fazia o acompanhamento musical ao cair por entre as folhas, em frente à sua janela do seu quarto. Seu pai vivia longe, sua mãe corria entre trabalhos e cansaços de cuidar da casa e dos filhos, mas Babi tinha um segredo guardado no peito como quem guarda um sol em dias nublados, ela queria ser escritora.

     Seu companheiro fiel era um caderno de capa vermelha, meio amassado, mas cheio de sonhos por dentro e margens rabiscadas de esperança. Mas ela ainda não sabia por onde começar.

     Numa noite em que o vento assobiava pelas frestas da janela, o caderno tremeu em suas mãos. E, como num passe de mágica, saltou de dentro dele uma criatura feita de tinta e papel, era o “Parágrafo”, um duende magricela com cabelo de vírgulas e olhos de reticências. E foi logo dizendo para ela...

     - Você não precisa saber tudo agora, Babi, enquanto falava ele, dançava sobre a mesa... - Só precisa começar com o que você sente.

     No dia seguinte, enquanto Babi observava borboletas no quintal da avó, uma azul e dourada pousou em seu ombro. Era a “Metáfora”, que sussurrou...

     - Eu transformo dor em poesia. Sempre que quiser escrever bonito sobre o que quiser, me chame.

     Mais tarde, enquanto lavava a louça, a espuma formou uma senhora elegante, vestida com véu de retalhos de histórias. Era a “Dona Narrativa”, que falava em prosa e verso.

     - Babi... Toda história precisa de começo, meio e fim, mas não esquece…  o meio é onde mora a emoção.

     E assim Babi começou a escrever, com medo da sua caligrafia às vezes, mas com coragem suficiente para continuar.

     Mesmo com seus novos amigos imaginários  O Parágrafo, a Metáfora e Dona Narrativa " …Babi ainda hesitava.
     - E se ninguém gostar do que eu escrevo? … sussurrava ela junto ao travesseiro.

     Foi então que apareceu o ” Erro Ortográfico”, um monstrinho de óculos tortos com um riso 'exagerado'.
     - Eu sou parte do caminho! disse ele, pulando entre as páginas rapidamente. Quem tem medo de errar nunca chega no final! Minha menina !!!

     Babi, pela primeira vez, sorriu para seu próprio erro.

      Numa manhã de domingo, com o sol dançando alegre para ela, Babi escreveu sua primeira história: “A Menina que Conversava com Nuvens”. Foi sobre ela mesma, mas com asas invisíveis, com palavras como se tivesse super-poderes.

      Ela mostrou à mãe, que chorou devagar, como quem lembra de si mesma ainda pequena.
     - Você tem algo lindo dentro de você, minha filha… disse ela. - E isso merece ser lido no mundo infantil e adulto também.

     Na escola, ela não era a mais rápida nas contas, nem a melhor no vôlei, mas quando a professora dizia “faça uma redação”, Babi  sentia como se as nuvens virassem papel e o lápis fosse varinha mágica.

     Um belo dia... Quando a professora anunciou o concurso literário na escola Babi sentiu o coração tropeçar no peito.

      - É agora ? Pensou ela…  O "Parágrafo" foi logo cochichando no seu ouvido…- Mostre quem você é.

      E chegou o grande dia… Ela entregou o conto com as mãos suadas. Durante uma semana, viveu esperança e medo, entre o “será?” e o “ e se ?”.

     Na aula de sexta-feira, a professora chamou nome, da vencedora !!!

      - Vencedora do concurso, é a Babi !!! Com a história “A Menina que Conversava com Nuvens” 

     Os alunos ficaram em silêncio por um segundo... e depois explodiram em aplausos. Babi fechou os olhos deu um grito de felicidade.

      Anos depois, com outros cadernos cheios e o coração ainda mais cheio de inspiração, Babi sonhou em uma noite de luar, que tinha publicado o seu primeiro livro…
     “O Caderno Vermelho e Outras Magias”.

      Na noite do lançamento, ao lado de uma mesa cheia de livros, ela viu crianças fazendo fila com olhos brilhando, pedindo dedicatória.

      Foi quando a “Metáfora” apareceu no sonho para ela, sentada entre as palavras...
      - Viu? Sua história é mágica. Você… Só precisa acreditar, que o sonho pode virar realidade.

      Numa manhã de domingo, Babi acordou com uma carta debaixo do travesseiro. Não era dos pais ou irmãos. Nem do Correio. Era do "Capitão Parágrafo", um velho marinheiro de histórias longas e canetas gastas, que vivia dentro de um livro de aventuras que Babi pegou certa vez na biblioteca da escola.

      A carta dizia:

"Babi, menina de palavras por nascer, tua coragem não mora no que já sabe, mas no que inventa. Navegue, erre, escreva. E quando tiver medo, lembre-se, até a vírgula tem seu lugar de pausa no caos."

     Inspirada, Babi criou uma história de uma menina que viajava em um navio feito de folhas de caderno, navegando entre tempestades de dúvidas e ilhas de ideias.

     Ela não perdia a esperança... Nas noites em que ela se questionava sobre o seu sonho de que um dia poderia ver um livro seu sendo publicado, Babi conversava com um personagem que ela mesma inventou, " Dona Muda ', uma senhora que não falava, mas escutava como ninguém. Sentada no parapeito da janela, Babi contava suas ideias com a voz baixa, e Dona Muda respondia com silêncio cheio de sentidos.

     "Algumas histórias," dizia o silêncio dela, "precisam de lágrimas antes de virarem palavras."

     Foi assim que Babi começou a escrever sobre seus medos e sua esperança, transformando tudo em contos que pareciam sussurros da alma.

     Anos se passaram. Babi cresceu, mas nunca parou de escrever. Guardava tudo numa gaveta velha, onde morava o seu caderno dos sonhos... Era ali que viviam o “ Capitão Parágrafo ”, “ Dona Muda ”, o “ Poeta das Palavras Voadoras ” e tantos outros personagens imaginários que tinham caminhado com ela pelo mundo encantado da literatura.

     Até que, num dia qualquer,  como são todos os dias especiais ela tirou o caderno da gaveta e decidiu enviá-lo a uma editora, aguardou com coração cheio de esperança. 

     A resposta chegou numa manhã chuvosa. Babi correu até a caixa de correio e encontrou um envelope com seu nome. Ao abrir, leu...

     Querida Babi, sua história nos emocionou. Ela será publicada. Outras crianças vão sonhar através das suas palavras. Bem-vinda ao mundo dos escritores."

     Ela chorou. Não de tristeza. Mas daquele tipo de alegria que só acontece quando o que parecia impossível vira realidade.

      Na estante da livraria, lá estava: “O Caderno de Babi”. E no final do livro, uma dedicatória:

"Para todos que carregam histórias no peito. Que nunca lhes falte uma caneta e um coração teimoso."   


    

     “ A menina dos cadernos ".  Nunca deixou de ser a “Babi”… Até hoje, quando escreve, escuta os sussurros de seus velhos amigos imaginários e sorri.


    Por Alfredo Guilherme



6 comentários:

Anônimo disse...

Que enredo maravilhoso, ganha um toque mágico e poético, celebrando a criatividade como um farol em tempos difíceis. Você vai do Leme ao Pontal com seus textos valeu caro amigo!!!!

Anônimo disse...

O tema da menina chamada Babi, que sonha em ser escritora apesar de uma infância humilde e dos pais separados, é de uma beleza sensível e universal. Meus netos leram comigo foi um momento mágico obrigado meu amigo!!!! Alfredo

Anônimo disse...

Adorei

Anônimo disse...

👏👏👏👏👏 adorei

Dalidaki disse...

Que linda escrita. Que delicadeza. Só um grande escritor possui essa sensibilidade.
Parabéns.

Anônimo disse...

Maravilho seu conto me emocionei me fez ser criança por uns instantes parabéns pelo conto...