segunda-feira, 2 de junho de 2025

Crônica : "A Vida Antes da Vida"…

 



       E se essa vida, a que chamamos de real, for apenas o estágio probatório da alma? Um tipo de cursinho intensivo, com provas surpresa, trabalhos em grupo desastrosos e aquele professor invisível que nunca dá a resposta certa, só mais perguntas? E se esta vida com seus dias cansados, alegrias fugidias, filas demoradas, amores mal curados e cafés que esfriam antes da primeira pausa for apenas um ensaio? Um grande teste de empatia, uma oficina de humanidade?  
      Talvez não sejamos o produto final, mas o rascunho. O esboço borrado de algo que ainda está em formação. Como barro nas mãos de um tempo silencioso que nos molda sem pressa, com cada perda, com cada recomeço.
      Às vezes me pergunto se não estamos todos em um tipo de treinamento, como astronautas confinados numa base de simulação. A diferença é que aqui, ao invés de macacões prateados, tipo usado na NASA, vestimos contas a pagar, ansiedades, medos antigos e sorrisos que tentam não desmanchar. 
      E se, na verdade, a nossa verdadeira "identidade" estiver guardada para depois, numa outra vida, numa outra frequência, quando finalmente formos diplomados em empatia, coragem e paciência? Onde seremos, enfim, aquilo que só sonhamos ser por aqui? Imagina só… essa existência seria um grande ensaio, onde errar faz parte do script, onde chorar no palco não cancela a peça. 
      A gente aprende, reaprende, desaprende. Cada queda seria uma chamada oral da vida perguntando: "E aí, vai desistir ou tentar de novo?" Talvez os que mais sofrem aqui, sejam os mais prontos. Talvez aqueles que sentem demais, que tropeçam mais do que andam, estejam só adiantando a matéria. 
      E aí, um dia, quando o sinal tocar pela última vez, nos chamam pela lista não mais com nome de batismo, mas com o nome que forjamos em silêncio, no escuro, entre as dores e as pequenas alegrias. Um nome que só o universo sabe. 
      E ali, enfim, não seremos mais uma versão “Beta” e sim uma versão “Premium” de nós mesmos. Seremos inteiros. E verdadeiros. Sem máscaras. Sem provas. Sem medo da próxima etapa. E se for isso? Se viver for só um longo preparo... para aprender, com todas as falhas e belezas, quem a gente nasceu pra ser? 

      Após você acabar de ler, essa crônica, convido você a olhar com outros olhos para as suas quedas, para os seus medos, para as suas pequenas vitórias silenciosas. Independente de credo ou religião. Talvez você descubra, como eu, que viver é mais sobre a travessia do que sobre a chegada. Que ser inteiro é um exercício diário. E que, no fim, o que importa mesmo não é passar no teste... é o quanto a gente amou tentando.


        Por Alfredo Guilherme 



9 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo, Seu texto é um sopro de reflexão e sensibilidade. Ele traduz, de uma forma poética e profundamente humana, a ideia de que a vida não é um destino final, mas um processo contínuo de aprendizado, de ensaios, e de ajustes finos. mais uma vez parabéns pelo texto meu amigo !!!!

Anônimo disse...

A forma como o texto me conduziu foi quase como um convite para enxergar a vida com mais leveza, texto poderoso adorei

Anônimo disse...

Há um certo conforto na ideia de que errar faz parte do script, de que tropeçar não significa fracassar, mas sim avançar no caminho do autoconhecimento.

Anônimo disse...

Caro amigo Alfredo... Seu texto é fascinante, porque toca em algo que muitas vezes nos escapa no dia a dia, não somos estáticos, estamos sempre nos moldando, nos reconstruindo, nos transformando.

Anônimo disse...

Parabéns um texto pra se refletir, que nossa expectativa não passa de um script? Mesmo que seja vamos viver mesmo que seja último ato.

Anônimo disse...

Esse texto me tocou de alguma forma, significa que ele cumpriu sua missão de escrita ...adorei

Anônimo disse...

Alfredo, a sua reflexão é profunda e carregada de sentimento.

Anônimo disse...

Até os momentos mais difíceis têm propósito na construção da pessoa que estamos nos tornando. Isso dá outro significado para as nossas falhas, para os dias que parecem pesados, para as dúvidas que nos assombram.

Anônimo disse...

A ideia de que nossa verdadeira identidade ainda está sendo forjada realmente é poderosa mesmo.