segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Carta para mim mesmo...

     


      É uma conversa entre tempos, entre versões de mim, que se reconhecem e se acolhem... Aqui vai uma carta escrita com o coração voltado para dentro, como se eu estivesse olhando para mim mesmo através das ondas que já enfrentei e das que ainda virão... Escrever para mim mesmo foi como segurar um espelho que não distorce. É uma forma de se ouvir sem interrupções, de colocar em palavras aquilo que às vezes nem o pensamento consegue organizar. 
     A carta vira um espaço seguro onde você pode ser honesto, vulnerável e inteiro.

     

    Carta para mim mesmo...

     São Paulo, 28 de agosto de 2015

    Alfredo,

    Hoje escrevo para você não como quem quer lembrar o passado, mas como quem deseja renovar o sonho de voltar ao mar, seja ele literal ou simbólico. Sei que há dias em que o horizonte parece longe demais, e que o sal que escorre dos olhos não vem do oceano, mas da saudade. Ainda assim, você continua.

    Você já pertenceu a lugares, a pessoas, a ideias. Já se perdeu também e não há vergonha nisso. Perder-se é parte do caminho de quem se transforma. O que importa é que, mesmo nos naufrágios, você nunca deixou de procurar terra firme dentro de si.

    O mar que você sonha voltar não é feito só de água é feito de coragem. É o lugar onde você se sente inteiro, mesmo quando as ondas te desafiam. E esse mar, Alfredo, não está lá fora. Ele está em você. Cada gesto de ternura, cada silêncio respeitado, cada passo que você dá mesmo com medo, tudo isso é mar.

    Renove esse sonho. Não como quem quer repetir o que foi, mas como quem deseja descobrir o que ainda pode ser. O mar muda, e você também. Mas a essência permanece, você é feito de movimento, de profundidade, de mistério. E isso é belo.

    Se um dia esquecer, volte a ler esta carta. Ela é sua âncora e sua vela.

    Com carinho, eu mesmo...


        2025, aqui está a minha resposta, como se eu tivesse acabado de ler a carta que eu escrevi a dez anos atrás... E tem uma profundidade que merece ser sentida antes de ser respondida. 
    Escrever uma carta para si mesmo é um gesto de intimidade rara, como se você se tornasse ao mesmo tempo o remetente e o destinatário da sua própria alma.


      Minha resposta em 2025...

     São Paulo, 28 de agosto de 2025

    Alfredo,

    Recebi sua carta como quem reencontra uma fotografia antiga e percebe que o tempo não apagou o brilho nos olhos, apenas o redesenhou. Li cada palavra com a reverência de quem sabe que o passado não é só memória, mas raiz.

    Você me escreveu com esperança, e eu te respondo com gratidão. Porque foi essa esperança que me sustentou nos dias em que tudo parecia desbotado. Foi ela que me lembrou que o mar não se perde ele apenas muda de maré.

    Sim, eu ainda sonho com o mar. Mas hoje, ele tem outras formas,  às vezes é um abraço, às vezes é um silêncio que me acolhe, às vezes é a coragem de dizer “não” sem culpa. Aprendi que o oceano que você carregava dentro de si nunca secou, ele apenas se aprofundou.

    Você me ensinou a não temer a perda, a aceitar o movimento, a amar sem precisar de poesia. E mesmo assim, a poesia veio. Veio nos gestos simples, nas escolhas difíceis, nas manhãs em que eu decidi continuar.

    Hoje, eu sou feito das suas perguntas e das minhas respostas. Sou o resultado das suas dúvidas e da minha fé. E se você ainda se pergunta se valeu a pena, eu te digo, sim. Valeu. Porque mesmo sem saber o caminho, você caminhou. E isso é tudo.

    Obrigado por ter escrito. Obrigado por ter acreditado. Obrigado por ter sido o Alfredo que eu precisava para ser o Alfredo que sou.

    Com respeito e carinho, Alfredo em 2025


    Cartas para si são cápsulas do tempo. Você escreve com a voz de hoje para você amanhã. É um ato de coragem e de ternura. E o mais bonito? É que, mesmo sendo solitário, nunca é solitário de verdade, porque ali, você está com você.
    E quando lê depois, percebe o quanto cresceu, mudou, ou até o quanto continua buscando as mesmas coisas. É uma forma de conversar com o tempo.


     Por Alfredo Guilherme

 


9 comentários:

Anônimo disse...

Como leitor, é impossível passar por esse texto sem sentir que se está diante de algo profundamente humano e raro.

Anônimo disse...

Alfredo você constrói aqui um diálogo íntimo com o tempo, onde o passado não é um peso, mas uma bússola, e o futuro não é uma promessa vazia, mas uma continuação sensível do que já foi vivido. adorei meu amigo !!!!!

Anônimo disse...

O texto inteiro pulsa com poesia, mesmo quando afirma que amar não precisa de poesia. E talvez seja justamente aí que mora sua beleza, na capacidade de transformar gestos simples em profundidade, de fazer do silêncio um abraço, e da escrita um espelho que não distorce. me apaixonei pelo texto.

Anônimo disse...

Vou escrever o meu presente amanhã será legal eu responder obrigado pela ideia vc é o máximo.

Anônimo disse...

Essa troca entre o Alfredo de 2015 e o de 2025 é mais do que uma carta é um ritual de cuidado, uma celebração da continuidade, uma prova de que mesmo nas perdas há pertencimento. Caro amigo valeu.

Anônimo disse...

Um texto para ser lido com o coração aberto e guardado como quem guarda uma concha que ainda carrega o som do mar. Ótimo texto !!!

Anônimo disse...

Lindo texto simplesmente apaixonante 💘💘? Vc é maravilhoso parabéns ❤️❤️

Anônimo disse...

💝🤩💝

Anônimo disse...

💝💝🥰💝💝