Em uma pequena cidade, com ruas de pedra, rede na varanda, rádio tocando forró antigo e cheiro de bolo de milho no ar. O tempo parece andar mais devagar, como se respeitasse a dor de quem já amou demais.
O Agreste nordestino é uma das quatro sub-regiões do Nordeste brasileiro, e talvez uma das mais poéticas em sua dualidade... É onde iremos conhecer esses personagens, que carregam o cheiro da terra e o som da sanfona.
Zeferino, um homem sensível, com coração remendado e olhar desconfiado, ama café forte e versos sinceros... Zé Agrepino, mais conhecido como Zé Confiança, um filósofo popular, meio doido, anda levando esperanças pela cidade ... Luzia, vendedora de poesia e abraços, na feira, tem um sorriso que desarma qualquer tristeza e uma voz que parece cantiga de ninar.
No sertão da alma, onde o tempo caminha descalço, E lá onde mora Zeferino, com seus silêncios com som de vento e canto dos passarinhos.
Já amou, já caiu, já jurou nunca mais amar se for pra sofrer. Mas o coração, esse danado, vive desobedecendo promessas, entre quedas e cafunés, entre medo e a vontade de ser feliz.
Zeferino e a saudade... homem sensível, com coração remendado e olhar desconfiado. Sentado na varanda olhando o horizonte, a rede balança , o rádio toca baixinho, um Forró pé-de-serra com sanfona suave.
A saudade é personagem invisível, mas presente. Ele conversa com ela como se fosse gente... - Você de novo, saudade?... Você não cansa de me visitar, não? Como se fosse dona de mim ?
Ele pega uma xícara de café, e suspira... - O café esfria, mas você, parece que gosta de me ver remoendo saudades... Você é mesmo uma filha de uma égua, pra não dizer outra coisa.
Nesse momento eis que chega seu amigo, Zé Confiança, um filósofo popular, meio doido, meio sábio. Anda com chinelo furado e frases de efeito na ponta da língua, chega com um sorriso maroto, com um saco de pão e uma filosofia pronta... “Amor é igual pão quente, se esperar de mais, endurece.”... Abra o seu coração de novo velho amigo.
- Vamos fazer um teste. Se você sorrir três vezes com o novo amor, é sinal que o seu coração quer brincar de novo. Aproveitando...Trouxe pão e filosofia. Qual você quer primeiro?
- Se for pra doer menos, começa pelo pão, quero esquecer.
- Zé sorriu... - Esquecer é coisa de quem nunca aprendeu a lembrar com carinho, meu amigo. e aqui no agreste a esperança é teimosa ela é quem brota mesmo quando a chuva demora a chegar.
Quarta -Feira, dia de feira livre, na praça lugar de festas juninas gigantescas e personagens que parecem saídos de um romance de Ariano Suassuna. É onde o humor se mistura com sabedoria, e o sofrimento vira poesia.
Ele encontra Luzia, vendendo versos e poemas em papel de pão.
Eles conversam, trocam risos tímidos e olhares que dizem mais que palavras, Luzia com o seu sorriso que desarma qualquer tristeza e uma voz doce que parece cantiga de ninar.
Ela oferece para ele um verso por um sorriso. Ou dois por um cafuné.
- E se eu não tiver nem sorriso nem cafuné Luiza ?
Luiza sorri e vai logo dizendo... - Então leva de graça, quem carrega dor já paga demais.
Ele lê o verso... “Pra quem já caiu, um verso que levanta.”
- Você escreve com o coração? estou emocionado...
- Escrevo com as dores do mundo, elas tem cicatrizes. Mas têm boa caligrafia.
O dilema... Passados alguns dias... Zeferino e Zé sentados sob um pé de manga, jogam palavras ao vento.
- Zeferino... Lembra do texte ? Se você sorrir três vezes no proximo encontro com Luzia, é sinal de que o seu coração quer brincar de novo.
- Lembro, mas se eu tropeçar?
- Tropeço é convite pra abraço, homem.
A velha cidade acorda cedo, com galo e rádio ligado. Forró de Luiz Gonzaga e coração remendado. Zé Confiança já grita bem cedo pelas ruas, com pão e sabedoria, “Quem tem medo de cair, nunca dança com alegria!”
No terreiro da esperança, Zeferino se ajeita, Com chapéu de palha torto e esperança que não se deita.
Luzia vem chegando, com cheiro de poesia e perfume de uma flor... Ditribuindo verso e abraço, e um tantinho de amor.
Eles vão pela estrada, poeira subindo leve, Luzia rindo baixinho, Zeferino já não é tão breve e... Tropeça numa pedra... - Luiza, essa pedra tem mais iniciativa que eu.
Luzia rindo também responde... - Ela só fez o que você não teve coragem, te empurrou pra frente... e versou... Porque amor que é do bom, vira dança no abraço.
Chegam... No mercado que tem cordel, tem cuscuz e tem repente, tem menino correndo solto e saudade sorridente.
Zeferino compra um buquê de flores, e Luzia recebe com um olhar de emoção... E o coração de Zeferino, esse danado, começa a se animar.
Zé Confiança, observa de longe, com sorriso de quem já viu de tudo... e jura que esse amor vai dar certo, no sertão da alma, de Zeferino o amor nunca se extinguiu. É feito de flor e poeira, de tropeço e de calor... E quem aprende a cair, aprende a voar com amor.
Essa embolada amorosa é como rede balançando no alpendre, leve, sincera e cheia de balanço.
Dá pra imaginar os três sentados sob o pé de umbuzeiro, com o sol se despedindo no entardecer, e o rádio tocando Dominguinhos, enquanto festejam o coração de Zeferino que aprendeu a amar de novo.
Por Alfredo Guilherme
9 comentários:
O texto me fez sorrir, suspirar e até sentir saudade de coisas que nunca vivi. É como se Ariano Suassuna tivesse deixado sementes e elas florescessem aqui, entre tropeços e cafunés, entre o medo de sofrer e a coragem de amar de novo.
Lindo demais. Dá vontade de morar nesse sertão da alma.
Como leitor, caro amigo Alfredo, é impossível não se deixar levar pela cadência poética desse texto, que mais parece um abraço em forma de palavras. A narrativa tem cheiro de terra molhada e gosto de café forte, daqueles que a gente toma devagar, olhando o horizonte.
Zé Confiança, com sua sabedoria matuta e chinelo furado, é o tipo de amigo que todo mundo queria ter valeu belo conto brasileiro na alma.
💝💝👏👏 Belo texto 💝💝💝
💝A você tira poesia e alegria em todo lugar, e eu amo seus poemas, você é D ++++++ , que Deus sempre te contemple com esta inspiração 💝
A rede balançando no alpendre, ela embala a história com ternura e melancolia.
👏👏👏👏👏👍 belo conto de conteúdo bem brasileiro
No fim, a mensagem é clara e bonita, quem aprende a cair, aprende também a dançar e a voar com amor.
Postar um comentário