quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Na velha Lapa de lá, e de cá ... Historias e Lembranças...

   


De... Preconceito e Racismo...

            Quem disse que o samba nasceu no morro...?? Nasceu sim e foi levado para a elite da cidade...  Nos famosos Bares da Lapa, onde ser negro e morar no morro, não eram bem visto, ou melhor, nem tinham vez... 

           Os que frequentavam ainda tinham que aturar frases racistas como está... “Eram Pretos de alma Branca”, e sabiam se comportar...

          Os patrícios, como eram chamados os homens da raça negra, os bambas do samba chegavam na noite boemia da Lapa, com seus violões ainda dentro da capa bem na maciota, ficavam lá no “lugarzinho deles”, falavam baixinho com muita  educação tipo “Sim senhor” , “Não senhor”, e só entravam na roda da conversa quando eram solicitados... Até um dos maiores compositores e poeta, do nosso samba "Cartola" passou por este vexame.  

         Caraca ...!! Um belo dia, quando eu tinha uns 12 anos, jogando bolinha de gude com a garotada na Rua Coelho de Carvalho no Alto da Lapa em São Paulo, onde eu morava, escutei uma vizinha a Dona Vilma, dizer para uma nova vizinha que tinha acabado de mudar, que toda a vizinhança era maravilhosa, até mesmo a única família de negros que morava na rua, ela falava da minha família, que éramos negros, mas para ela ficar tranquila, era um branco casado com uma negra, e a minha mãe era uma negra de alma branca, e com um bom poder aquisitivo, tínhamos até automóvel...

         Cacete...!!!  Fiquei revoltado, em alto e bom tom, mandei a Dona Vilma pra, " PQP"... E completei com um estrondoso... "Sua racista, filha da puta"... Resumindo tomei um baita (esporo) entre aspas, da minha mãe, após a reclamação da Dona Vilma que quase teve um infarto, com o que a minha mãe falou pra ela, com um meigo sorriso no rosto, minha mãe me beijou, acariciou e me levou para dentro de casa, preparou bolinhos de chuva, para o chá da tarde enquanto conversávamos a respeito do ocorrido... 

          Vai vendo... Na Lapa carioca da gema...

         A boemia, na época do Estado Novo, até os malandros da Lapa eram brancos, filhos de homens de alta patente e da alta sociedade carioca.
      
         Nos bons tempos da Lapa, nos Rendevu, tinham mulheres francesas e polacas, eram mulheres bonitas com estudo, tomavam bons vinhos e só falavam francês, as cafetinas tinham até secretaria particular, e os pederastas que tomavam conta dos banheiros, garçons, porteiros eram brancos, tudo  porque, tinham classe.. 

       O pessoal se divertia, dançando, mas não tinha samba não, era tocada melodias ao som de pequenas orquestras constituída na maioria por músicos europeus e ao som violinos, tomavam um bom uísque, a 5 mil reis a dose e o jogo corria solto, roleta e bacará, 10 tostões a ficha da sinuca... Isso atraía políticos jornalistas, escritores, estudantes de direito e de medicina. 

       O malandro de antigamente não era como muitos pensam um marginal, o malandro era honesto, elegante, malandro andava bonito, de camisa de palha de seda, abotoaduras de brilhante, gravata, e sapato de duas cores preto e branco, com salto carrapeta e a carteira, sempre com uns bons trocados...

        Digno, e tinha hombridade, jogava capoeira, manuseava uma navalha com precisão, se fosse negro então tinha que muitas vezes derrubar policiais sacanas nas pernadas de capoeira, isso para não serem achacados pela P.E que queriam até tomar os poucos trocados muitas vezes que sobrava no bolso para pegar o bonde, depois de uma noitada em boas gafieiras, Estudantina, Siboney, e no Campo de Santana o Elite.


        No final da década de 20 surgia no centro do Rio de Janeiro o Café Nice...

         Lá se reuniam escritores, cantores, compositores músicos, e intelectuais de um modo geral, artistas já famosos como Chico Alves, Grande Otelo, Ari Barroso, Mario Lago, Cartola e Noel Rosa e muitos outros faziam parte da seleta clientela... Uma curiosidade do Nice, o local foi inaugurado dias depois do surgimento da primeira escola de samba do Rio de Janeiro, e por suas mesas passaram alguns de seus criadores, entre eles Ismael Silva, Bide e Marçal.

         Era o ponto de encontro dessas pessoas para trocarem idéias e formarem novas parcerias comerciais e musicais, tinha muita pilantragem bebeu, cantou uma boa música sem ser registrada, já era duas semanas depois um cantor famoso já estava gravado...

       A famosa casa era ao estilo parisiense, não à toa homenageava no nome de uma cidade francesa... Localizada na Av. Rio Branco, número 174, tornou-se símbolo de um período de formação da identidade musical nacional...
         
Memórias do Café Nice (Nelson Gonçalves)
Ah! Que saudade me dá
Ah! Que saudade me dá
Do bate papo
Do disse-me-disse
Lá do Café Nice
Ah! Que saudade me dá


Historias contadas formam um elo importante na realidade em que vivemos até hoje, e insiste em nos importunar o preconceito e o racismo... Até quando em...? 



Por Alfredo Guilherme


Um comentário:

Alguil disse...

Enviado por e-mail por M.A.Z

Nos dias de hoje ainda persiste o racismo e o preconceito no mundo.
São vários casos recentes no Brasil e também nos EUA, que a cor da pele ainda incomoda uma minoria branca da população.
Nas escolas deveriam dar mais ênfase na realidade da contribuição do negro ao País, homens que trabalhavam de sol a sol em troca de restos de comida, açoitados em não atender as ordens do capataz que rasgava a pele do negro até o sangue jorrar, mais que violência físicas eram mortes por desnutrição mais vezes causadas por epidemia pela falta de higiene, dores físicas, morais e espirituais. Após abolição quase nada mudou, foram libertados sem a mínima condição de vida, sem trabalho, sem instrução jogados a sua própria sorte, muitos subiram o morro hoje chamado de favelas, outros foram para vilarejos também chamados hoje se periferias. As mulheres tiveram um pouco mais de "sorte", conseguiram trabalho domésticos em casas de famílias nobres, como babas, cozinheiras entre outras coisas. Ainda hoje segundo pesquisa a grande maioria das mulheres negras, ainda exercem serviços domésticos em casas de famílias. Porem muitas coisas mudaram, nossos pais puderam nos dar uma condição melhor que a deles, e nos para nossos filhos, que hoje estão em universidades muitos ocupando cargos de destaque em chefia, jornalismo, médicos advogados enfim estamos num patamar privilegiados por méritos conquistados por merecimento de nossa luta em cima dessa desigualdade explicita. Não tem essa de "negro de alma branca", somos negros e enfrentamos nossa realidade com dignidade, respeitando a todos independente da cor da pele, branco, negro, amarelo, índio judeus, somos todos filhos de Deus.


OBRIGADO PELO SEU IMPORTANTE COMENTÁRIO ALFREDO GUILHERME