sábado, 8 de agosto de 2015

Preto lindo... !!




Se vocês escutarem qualquer coisa em um samba em tom menor falando coisas como...

Um dia você vai perceber que te amei, muito além do seu desejo.../ A dor maior da paixão, e perceber que eu não fui correspondido... / Esse é o lenitivo do nosso amor...

E outras romantescas frases inseridas nas letras de um samba, certamente é dele... Do Preto Lindo...

Escrevia suas letras de samba pra lá de românticas na birosca da Tia Irene depois de banhar-se no mar saldando a rainha das águas Iemanjá.

Mesmo tendo a sua vida atormentada por paixões e desilusões, ele se afogava no conhaque e na Bhama bem gelada, era ai é que vinha a divina  inspiração do poeta.

Nasceu no Morro dos Prazeres, mais ele nunca sentiu nenhum prazer em ter nascido lá, preferia ter nascido em Ipanema, em berço esplendido com pais ricos.

O Preto, nunca teve um apelido se quer, ganhou este pela elegância em se vestir e o cuidado no brilho do seu sapato de verniz em duas cores, preto e branco, o apelido veio quando já era sambista e compositor, conhecido nas bem frequentadas rodas de samba na Pedra do Sal... O berço do Samba carioca, com Pixinguinha, Benedito Lacerda, Donga e outros bambas do samba.

Mas na adolescência, como coroinha ficou pouco tempo na capela do Santíssimo, preferia mesmo era circular pela Central do Brasil, cometendo pequenos delitos, e fazendo embaixadinha com uma bola de papel amassada para ganhar alguns tostões dos transeuntes que ficavam a sua volta vendo nele um possível craque de futebol.

Mas como todo bom malandro, ele não tinha pernas curtas... Corria muito...!!! Nunca deu mole, pra ele ir parar na Correcional de Menores, o garoto cresceu safado mesmo.

Frequentou cabarés, jogou sinuca no Salão Azul, seus amigos eram malandros de primeira linha na saudosa Lapa de Madame Satã.

Alisava o pinchai no salão da Dona Filó, lá em Bangu, e foi nesta época que ele virou um  comedor de flores... Um vegetariano...

Comia além de outras, a Camélia, a Margarida, a Hortênsia, mas a preferida era mesmo, a comestível, filha da Dona Filó, a escultural, e gostosa mulata... Rosinha.

Aqui no Rio esse crioulinho brejeiro de cabelo esticado pintou e bordou na boémia até ele se encontrar com a Mãe de Santo... Mãe Nicinha, da Nação Jeje, que em menos de 30 dias trancou ele no roncó, raspou, catulou e enquadrou ele no universo dos Orixas.

Tendo em vista os problemas que os búzios revelaram caindo todos virados pra cima, ele acabou indo para Bahia pra firmar o seu santo.

Salvador na época com seu Plano Inclinado, o popular bondinho (desce caindo), que ligava a cidade Alta a Cidade Baixa, tinha também os bondes circular que vinha pela Baixa do Sapateiros, Brotas, e do Carmo, essa condução era do remediados pois os da caixa alta moravam bem, ali pelo Corredor da Vitória  e pelo Canela.

O Pelourinho na época era um rebosteio só de quengas, marinheiros e muita malandragem, regada por bebidas na fumaça da novidade... A Xibabá (maconha).

Mas foi no Tabuleiro da Baiana em baixo do elevador Lacerda... Que lá era, nada mais, nada menos... Que um  elevador, e no Rio de Janeiro um político poderoso.

Preto Lindo conheceu ali a quituteira Cidinha, o eterno amor da sua vida, uma negra bela e escultural.

Cidinha e Preto formavam o casal perfeito no amor, e nos rituais do candomblé, Cidinha cambonava ele por ser feita no santo também, as festas no terreiro de Mãe Betinha eram frequentadas pela aristocracia da  sociedade de Salvador, carros de ultimo tipo chegavam a todo o momento e a fragrância dos perfumes franceses, se misturava na purificação da fumaça das ervas sagradas.

Onde os convidados especiais já entravam pelos fundo direto para camarinha onde o Preto incorporava o Caboclo Flecha Dourada, entidade da falange de Xangó... Até artistas nacionais e alguns estrangeiros pelo o que consta se entregaram aos prazeres de uma aguardente puríssima servida durante a sessão.

Mas no fuxico geral... Diziam a boca pequena, que a sessão terminava na hora em que era servido, o prato com algo horrível, misturado com camarão e quiabo... Preto caia fora de fininho, levando com ele o caboclo ainda incorporado, e tudo por causa dessa comida muito apreciada por Xangó, que fazia um efeito ao inverso com Preto Lindo, ele odiava essa gororoba, tinha um verdadeiro surto de raiva.

Preto, um eterno boêmio tocava e cantava em vários botequins e nas rodas de samba da velha Salvador, uma noite quando tocava com um grupo de amigos no Solar dos Boêmios, na cidade baixa,  cheio de inspiração neste dia, pois tinha acabado de comprar um lindo par de brincos, para sua amada Cidinha, mas não sei por que cargas d'água ele deixou a caixinha em cima da mesa junto com seu maço de cigarros.

Mas quando a noite não está pra lua cheia, é foda mesmo...

Zumira, catimbozeira, era também sem dúvida, o protótico da bêbada pegajosa, chata, a filha da puta, filava um cigarro atrás do outro, se achava a beleza principal do botequim, servindo com sua extravagante bunda, e um decote com os bicos do seio sempre duros numa blusa de seda da costa, que sem exagero, dava pra ver o umbigo dela, enquanto servia nas mesas dos frequentadores.

Era uma praga sinistra, na vida do Preto, sempre dava em cima dele nas horas de descanso dos músicos, e quando ela viu em cima da mesa dele, uma caixinha com um laço vermelho. não resistiu, pegou e abriu...

E pra sacanear, falou bem alto... 

           - Preto que porra e essa
? Você sabe que eu não uso brincos...

Preto bebia com os amigos músicos em pé ao lado da mesa. virou a cabeça na direção dela, já cuspindo fogo pelas ventas...

- Quem te deu está ousadia de abrir a caixinha de presente ?

- Deve ter custado caro ?

- Não é da sua conta porra.

- É de ouro com brilhantes mesmo ?, são muito lindos !!...

- Sim são...

- Vai sacanear o cacete...

            - Você não quer por nada ser o meu homem Preto ?...  Quer saber de uma coisa, ela não vai usar nunca esse mino, que você comprou pra ela...

- Me dá aqui os brincos isso não é pro seu bico escrota de merda... Sua vagabunda...

Dizendo isso na cara da Zumira, não deu outra, ela teve um acesso de fúria incontrolável jogou a caixa no chão, mas antes que ela pensasse em pisar em cima, Preto respondeu na ousadia pura e rapidamente...

Deitou, a mão nela dando um forte empurram.

Zumira acostumada a ter os homens que ela queria aos seu pés, agora estava de joelhos aos pés do Preto Lindo, com os olhos vermelhos e cheios de ódio  olhou pra cima jurando de morte ele e a esposa.

A turma do deixa pra lá entrou em ação apaziguando o fuduncio, levando o Preto e o seu violão para fora do botequim, enquanto Zumira, lascava os mais impensados palavrões na direção dele.

Preto subiu a ladeira em direção a cidade alta, cantarolando com seu parceiro musical Edinho do Cavaquinho, um samba canção que ele compôs para sua musa e amada Cidinha... Com este apaixonado refrão...

Em / Cada pétala da Rosa.
Que eu lhe dei /Eu coloquei
Amor e carinho / Sempre sonhando 
Com você / Meu amor.

Naquela madrugada ao chegar em casa, Cidinha estava calmamente dormindo ainda vestida e deitada no sofá da pequena sala, era deste modo que ela o esperava voltar das noites de trabalho musical.

Ele se aproximou devagarinho, meteu a mão por dentro da saia com todo o cuidado foi alisando aquelas coxas lisas chegando até lá, ela fingindo que ainda dormia, Preto começou a falar aquelas besteiras todas gostosas para ela, que já estava toda molhadinha... Tadinha.

Ai foi àquela brincadeira gostosa até que ela o abraçou apertado, as suas bocas já sabiam o caminho, beijos no pescoço cheiroso, seios sendo acariciados e beijados, com desejo, lá embaixo o dedo a fazia ela tremer toda... Gemendo ela sussurrava... - Ah que coisa boa ! Que coisa gostosa !!!...

Preto pegou a Cidinha pela mão levando ela para o quarto eles já não aguentavam mais, recostou ela na cama, ela não usava calcinha, foi botando devagarinho com cuidado, com jeitinho, sentindo todo o desejo dela, e dizendo o quanto ele a amava, ele gostava mesmo.

Ela revirando os olhos como se fosse morrer já todo dentro dela, foram vários minutos, momentos de louco prazer, quando acabaram e isso aconteceu juntos, adormeceram abraçado o resto da noite... 

Preto só acabou dando o presente ao raiar do dia, o que mereceu mais um momento de pleno amor entre os dois.

          Dois dias depois, daquela merda toda, ele decidiu voltar para o Rio de Janeiro, com a Cidinha a tira colo, ostentando toda prosa no lóbulo de cada uma das orelhas o brinco de ouro com brilhante presente do seu amado...

Isso nos faz lembrar... Que nenhum amor real, compete com o romance idealizado... Como foi o da Zumira, que ainda ficou na promessa de quizumbar com a vida deles.


O filho de Xangó, Preto Lindo... Embarcou em um avião qualquer, não teve que enfrentar o desafio do tempo que parece interminável na viagem de ônibus.

           Chegaram ao Rio de Janeiro, no sábado de Carnaval, assim que desceu as escadas do avião, Preto colocou os óculos escuros, olhando através dele uma nova vida na sua cidade natal... Com o passar dos anos ele acabou se tornando um dos grandes compositores do nosso samba.

Para eles o passado foi só àquela nuvem que passou, para deixar o sol aparecer. Vê se pode ?



Por Alfredo Guilherme



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