Se vocês escutarem qualquer coisa
em um samba em tom menor falando coisas como...

E outras romantescas frases
inseridas nas letras de um samba, certamente é dele... Do Preto Lindo...
Escrevia suas letras de samba pra
lá de românticas na birosca da Tia Irene depois de banhar-se no mar saldando a
rainha das águas Iemanjá.
Mesmo tendo a sua vida
atormentada por paixões e desilusões, ele se afogava no conhaque e na Bhama bem
gelada, era ai é que vinha a divina
inspiração do poeta.
Nasceu no Morro dos Prazeres,
mais ele nunca sentiu nenhum prazer em ter nascido lá, preferia ter nascido em
Ipanema, em berço esplendido com pais ricos.
O Preto, nunca teve um apelido se
quer, ganhou este pela elegância em se vestir e o cuidado no brilho do seu
sapato de verniz em duas cores, preto e branco, o apelido veio quando já era
sambista e compositor, conhecido nas bem frequentadas rodas de samba na Pedra
do Sal... O berço do Samba carioca, com Pixinguinha, Benedito Lacerda, Donga e
outros bambas do samba.
Mas na adolescência, como
coroinha ficou pouco tempo na capela do Santíssimo, preferia mesmo era circular
pela Central do Brasil, cometendo pequenos delitos, e fazendo embaixadinha com
uma bola de papel amassada para ganhar alguns tostões dos transeuntes que
ficavam a sua volta vendo nele um possível craque de futebol.
Mas como todo bom malandro, ele
não tinha pernas curtas... Corria muito...!!! Nunca deu mole, pra ele ir parar na Correcional de
Menores, o garoto cresceu safado mesmo.
Frequentou cabarés, jogou sinuca
no Salão Azul, seus amigos eram malandros de primeira linha na saudosa Lapa de
Madame Satã.
Alisava o pinchai no salão da Dona Filó, lá em Bangu, e foi nesta época que ele virou um
comedor de flores... Um vegetariano...
Comia além de outras, a Camélia,
a Margarida, a Hortênsia, mas a preferida era mesmo, a comestível, filha da Dona Filó, a
escultural, e gostosa mulata... Rosinha.
Aqui no Rio esse crioulinho brejeiro
de cabelo esticado pintou e bordou na boémia até ele se encontrar com a Mãe de Santo... Mãe Nicinha,
da Nação Jeje, que em menos de 30 dias trancou ele no roncó, raspou, catulou e
enquadrou ele no universo dos Orixas.
Tendo em vista os problemas que
os búzios revelaram caindo todos virados pra cima, ele acabou indo para Bahia
pra firmar o seu santo.
Salvador na época com seu Plano
Inclinado, o popular bondinho (desce caindo), que ligava a cidade Alta a Cidade
Baixa, tinha também os bondes circular que vinha pela Baixa do Sapateiros,
Brotas, e do Carmo, essa condução era do remediados pois os da caixa alta
moravam bem, ali pelo Corredor da Vitória
e pelo Canela.
O Pelourinho na época era um
rebosteio só de quengas, marinheiros e muita malandragem, regada por bebidas na
fumaça da novidade... A Xibabá (maconha).
Mas foi no Tabuleiro da Baiana em
baixo do elevador Lacerda... Que lá era, nada mais, nada menos... Que um elevador, e no Rio de Janeiro um político poderoso.
Preto Lindo conheceu ali a
quituteira Cidinha, o eterno amor da sua vida, uma negra bela e escultural.
Cidinha e Preto formavam o casal perfeito no
amor, e nos rituais do candomblé, Cidinha cambonava ele por ser feita no santo
também, as festas no terreiro de Mãe Betinha eram frequentadas pela
aristocracia da sociedade de Salvador, carros de ultimo tipo chegavam a todo o
momento e a fragrância dos perfumes franceses, se misturava na purificação da
fumaça das ervas sagradas.
Onde os convidados especiais já
entravam pelos fundo direto para camarinha onde o Preto incorporava o Caboclo
Flecha Dourada, entidade da falange de Xangó... Até artistas nacionais e alguns
estrangeiros pelo o que consta se entregaram aos prazeres de uma aguardente
puríssima servida durante a sessão.
Mas no fuxico geral... Diziam a
boca pequena, que a sessão terminava na hora em que era servido, o prato com
algo horrível, misturado com camarão e quiabo... Preto caia fora de fininho, levando com
ele o caboclo ainda incorporado, e tudo por causa dessa comida muito
apreciada por Xangó, que fazia um efeito ao inverso com Preto Lindo, ele odiava essa gororoba, tinha um verdadeiro surto de raiva.
Preto, um eterno boêmio tocava e cantava em vários
botequins e nas rodas de samba da velha Salvador, uma noite quando tocava com
um grupo de amigos no Solar dos Boêmios, na cidade baixa, cheio
de inspiração neste dia, pois tinha acabado de comprar um lindo par de brincos, para sua amada
Cidinha, mas não sei por que cargas d'água ele deixou a caixinha em cima da mesa junto
com seu maço de cigarros.
Mas quando a noite não está pra lua cheia, é foda mesmo...
Zumira, catimbozeira, era também sem dúvida, o protótico da bêbada pegajosa, chata, a filha da puta, filava um cigarro atrás
do outro, se achava a beleza principal do botequim, servindo com sua
extravagante bunda, e um decote com os bicos do seio sempre duros numa blusa de
seda da costa, que sem exagero, dava pra ver o umbigo dela, enquanto servia nas mesas dos
frequentadores.
Era uma praga sinistra, na vida do Preto, sempre
dava em cima dele nas horas de descanso dos músicos, e quando ela viu em cima da mesa dele, uma
caixinha com um laço vermelho. não resistiu, pegou e abriu...
E pra sacanear, falou bem alto...
- Preto que porra e essa? Você sabe que eu não uso brincos...
- Preto que porra e essa? Você sabe que eu não uso brincos...
Preto bebia com os amigos músicos
em pé ao lado da mesa. virou a cabeça na direção dela, já cuspindo fogo pelas
ventas...
- Quem te deu está ousadia de
abrir a caixinha de presente ?
- Deve ter custado caro ?
- Não é da sua conta porra.
- É de ouro com brilhantes mesmo ?,
são muito lindos !!...
- Sim são...
- Vai sacanear o cacete...
- Você não quer por nada ser o meu homem Preto ?... Quer saber de uma coisa, ela não vai usar nunca esse mino, que você comprou pra ela...
- Você não quer por nada ser o meu homem Preto ?... Quer saber de uma coisa, ela não vai usar nunca esse mino, que você comprou pra ela...
- Me dá aqui os brincos isso não é pro seu bico escrota de merda... Sua vagabunda...
Dizendo isso na cara da Zumira, não deu outra, ela teve um acesso de fúria incontrolável jogou a caixa no chão, mas antes que ela pensasse em
pisar em cima, Preto respondeu na ousadia pura e rapidamente...
Deitou, a mão nela dando um forte
empurram.
Zumira acostumada a ter os homens
que ela queria aos seu pés, agora estava de joelhos aos pés do Preto Lindo, com
os olhos vermelhos e cheios de ódio
olhou pra cima jurando de morte ele e a esposa.
A turma do deixa pra lá entrou em
ação apaziguando o fuduncio, levando o Preto e o seu violão para fora do
botequim, enquanto Zumira, lascava os mais impensados palavrões na direção
dele.
Preto subiu a ladeira em direção
a cidade alta, cantarolando com seu parceiro musical Edinho do Cavaquinho, um
samba canção que ele compôs para sua musa e amada Cidinha... Com este apaixonado
refrão...
Em / Cada pétala da Rosa.
Que eu lhe dei /Eu coloquei
Amor e carinho / Sempre sonhando
Com você / Meu amor.
Naquela madrugada ao chegar em
casa, Cidinha estava calmamente dormindo ainda vestida e deitada no sofá da
pequena sala, era deste modo que ela o esperava voltar das noites de trabalho
musical.
Ele se aproximou devagarinho, meteu a mão por dentro da saia com todo o cuidado foi alisando aquelas coxas lisas chegando até lá, ela fingindo que ainda dormia, Preto começou a
falar aquelas besteiras todas gostosas para ela, que já estava toda molhadinha...
Tadinha.
Ai foi àquela brincadeira gostosa
até que ela o abraçou apertado, as suas bocas já sabiam o caminho, beijos no pescoço
cheiroso, seios sendo acariciados e beijados, com desejo, lá embaixo o dedo a
fazia ela tremer toda... Gemendo ela sussurrava... - Ah que coisa boa ! Que coisa gostosa !!!...
Preto pegou a Cidinha pela mão levando
ela para o quarto eles já não aguentavam mais, recostou ela na cama, ela não usava
calcinha, foi botando devagarinho com cuidado, com jeitinho, sentindo todo o
desejo dela, e dizendo o quanto ele a amava, ele gostava mesmo.
Ela revirando os olhos como se
fosse morrer já todo dentro dela, foram vários minutos, momentos de louco prazer, quando acabaram e isso aconteceu juntos, adormeceram abraçado
o resto da noite...
Preto só acabou dando o presente ao raiar do dia, o que
mereceu mais um momento de pleno amor entre os dois.
Dois dias depois, daquela merda toda, ele decidiu voltar para o Rio de Janeiro, com a Cidinha a tira colo, ostentando toda prosa no lóbulo de cada uma das orelhas o brinco de ouro com brilhante presente do seu amado...
Isso nos faz lembrar... Que
nenhum amor real, compete com o romance idealizado... Como foi o da Zumira, que ainda ficou na promessa de
quizumbar com a vida deles.
O filho de Xangó, Preto Lindo...
Embarcou em um avião qualquer, não teve que enfrentar o desafio do tempo que
parece interminável na viagem de ônibus.
Chegaram ao Rio de Janeiro, no sábado de Carnaval, assim que desceu as escadas do avião, Preto colocou os óculos escuros, olhando através dele uma nova vida na sua cidade natal... Com o passar dos anos ele acabou se tornando um dos grandes compositores do nosso samba.
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