terça-feira, 30 de junho de 2015

Trechos do e-book vol 1... Textos Casuais...



Texto um... E-mail...Volta...

Caiu aquele quadro lindo que você colocou na parede...

Deve ter caído há dias, mas eu só vi agora, você sabe como eu não reparo nessas coisas, embora eu tenha amado o quadro que compramos lá em Embu das Artes, mas na verdade preferia uma obra sua amor, volta a pintar volta, vou amar ver você em meio aos tons de tinta que você tanto ama.

Pensando bem, escutei um barulho uma hora dessas, enquanto lia no sofá.

Mas, depois de tirar os olhos do livro por alguns segundos, matutei, matutei, decidi que não era nada e voltei a ler. Mas hoje vi que foi isso então.

Ah, e queimou a lâmpada da entrada, eu não consigo soltar a parte de fora, a de vidro, para poder trocar a lâmpada que fica dentro.

Como tem escurecido antes das 5 da tarde, no inverno escurece bem cedo, a entrada da casa agora fica sempre um breu.

E o inconveniente disso, é que é bem ali, que o Ted o nosso lindo cachorro decidiu fazer xixi quando ele quer dar algum recado, tipo avisando que está meio bravo, e agora já não posso mais ver se tem xixi ao entrar em casa, o que me deixa com medo de pisar no xixi, e por isso tenho entrado na ponta dos pés e, quando chego naquela área de risco, dou um pulo e vou cair quase depois da porta da cozinha.

 Já fui melhor de pulo, mas considero bastante razoável o alcance dessa manobra que inventei para entrar em casa.

Outro dia a vizinha me viu entrar executando esse meu momento bizarro e eu acho que fez uma cara estranha, no meio do salto eu percebi que alguém estava olhando e abri os braços na esperança de que ela achasse que eu talvez fosse bailarina, embora meu corpinho esteja mais para lateral esquerdo de time de futebol de veteranos, nada à ver né amor, sei que estou em forma e você ama este corpinho que te deseja.

E eu também ando tipo amuada, para ser bem sincera.

Enfim...

Sempre que você viaja a minha primeira reação é pensar que terei  uns dias sozinha, e que, como eu adoro ficar sozinha, mas nunca fico porque faz dez anos que grudamos, um grude que surpreende até para padrões mais conservadores, que já são altamente grudantes desde do nosso primeiro beijo.

Imagino-me lendo até tarde na cama, sem ninguém para reclamar que a luz acesa incomoda pra caralho, como você diz, me imagino vendo o Timão na TV sem ninguém para dizer os mais inflamados palavrões que eu já escutei na minha vida...

           E eu pra te sacanear dizendo que não aguento mais ver aquilo e que gostaria de ver alguma outra coisa na tv, e que seria legal eu achar essa outra coisa porque sou eu que sei achar os programas bons na TV.

Imagino-me ver você escrevendo até tarde, pois de madrugada que e o top máximo de sua inspiração, ou fazendo pesquisa de pacotes para viagens futuras on-line, sem compromisso, não tendo ninguém para gritar com a cachorro ou te interromper com perguntas ou assuntos que poderiam ser falados em outra hora qualquer, ou eu não querendo ficar sozinha na cama, fico dando uns gritinhos de carinho para você acabar logo que eu quero te amar.

Imagino-me fuçando no celular no Whatsapp ou no meu Face, sem ninguém para dizer...Porra amor, você não larga essa merda de celular por nada cacete...!!! Ficar com olhar estranho e dizer que eu tenho uma vida paralela nas redes sociais, sabe eu amo esse seu jeito "marrento" às vezes de ser, neste momento intino nosso de fêmea e macho, e que eu me sinto super protegida por você, e me acorda deste meu jeito turrona e meia voada de ser.

Me imagino acordando um pouco mais tarde porque não preciso dar o café da manhã para ninguém, e aí lembro que na semana passada, enquanto comia seus ovos mexidos, você me disse: “Os ovos estão vindo da cozinha meio moles demais”.

Como na cozinha só tem eu...

            Respondi que ia ter uma boa conversa com a mocinha dos ovos e dizer a ela que seria preciso mudar o preparo, e dar aquela caprichada. 

Então, imagino tudo isso e me animo. Afinal, a sua viagem é para menos de uma semana... Eu digo que é para você ir tranquilo porque ficaremos bem... Você ainda está no táxi a caminho do aeroporto e já abrimos uma garrafa de vinho, o cachorro e eu, pego meu tablet e sentada no sofá, fico revendo as nossas ultimas fotografias que por sinal ficam lindas você fotografa magnificamente bem... Em 10 minutos da sua ausência já não me parece mais tão divertida assim.

Vem a noite...

Deito na cama, não leio nem uma linha e apago a luz, durmo mal e com frio, acordo de madrugada depois de escutar um barulho medonho e demoro a pegar no sono outra vez... O barulho era do cachorro tentando subir no sofá da sala, executando o seu próprio acidente caseiro, a fim de se estirar no sofá e escapar do frio, mas o salto deu errado e, depois de patinar por alguns segundos tentando encontrar atrito no piso frio do chão, as patinhas escorregaram abrindo as pernas, e ele caiu de barriga.

Volta!

No dia seguinte, vejo os ovos na geladeira e penso que não tenho para quem quebrá-los. Você telefona e, agora que o futuro chegou, as ligações têm vídeo e eu posso ver você, o que é ao mesmo tempo bom e ruim. Mas você está tão longe…

Quero pedir que volte, mas acho que soaria doentio dado que não faz nem 15 horas que você saiu, então não digo nada... Tento buscar em mim aquela sensação de antes, que se parece com liberdade e que me invadiu quando você disse que ia viajar.

 Tudo em mim é saudade e tesão pós sua partida, quero fazer amor com você, mas você não está na cama.

E ainda faltam 120 horas para você voltar.

Olho para o cachorro e vejo nele um olhar mais perdido do que o meu.

Ele sabe que sozinho comigo a vida não é fácil... Lembro que você disse para eu não deixar faltar água no pote dele porque é sempre você que coloca água ali, e emendou com “porque você é incapaz de checar o pote”... Levanto para ver se de fato o pote está irremediavelmente vazio, o que talvez explique o olhar dele. Coloco a água e expresso um pedido de desculpas mas ele escolhe me ignorar. 

          Quando finalmente para de beber água, depois de uns minutos, volta para o sofá cabisbaixo e eu digo que não aguento mais o xororo, e que ele precisa se conformar porque ainda faltam 120 horas que teremos que passar por isso juntos. 

           Outra vez me fere com aquelas expressões de pura tristeza e orelhas baixa, antes de deitar a cabeça e fechar os olhos... Ele pelo menos consegue dormir sem você, agora que esta hidratado.

Faz dez anos que eu sou essa completa doente abobada de amor por você... Amar você é, tudo o que eu faço na vida, o que me dá mais prazer e o que me dá mais retorno... Vem com a sensação de que, ao me amar de volta, você faz por mim o que antes de você nem imaginava que podia acontecer.

Você me legitima... Cada pedacinho de minhas esquisitices e chatices e manias, você legitima tudo em mim... E na sua ausência eu me sinto sem legitimidade.

 Então, não quero pressionar, mas se desse para voltar mais cedo para casa eu agradeceria.

 Eu juro que desta vez eu viro corintiana, apago a luz assim que você deitar e te encho de beijos e carinhos recheados de boas sacanagens, muito mais do que no nosso normal.

Tchuco... Amo você !!!!...

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Texto... dois... É ai que a idade pesa...



Na medida em que vou avançando na idade, vou sentindo o peso da responsabilidade que ela trás...

             Errar já não pode ser um fato normal da vida. Somos quase que obrigados a acertar porque seremos julgados segundo nossa idade.

O respeito com que pensávamos que seríamos tratados não existe...

Para os mais novos somos ultrapassados, nossa opinião deixa de ter o real valor... É preciso continuar como se não envelhecêssemos nunca, para ter valor.

Eu continuo o mesmo... 

             Apesar da idade, não frequento academia, trabalho, mas jogo bola por uns 15 minutos, nado, empino pipa artesanal, curto computadores e meu celular é de ultima geração, amo filhos e netos... 

             Meu corpo esta respondendo, eu amo e sei que sou amado, mas se o velho corpo apresentar problemas, vou ao hospital, faço exames clínicos e tomo os remédios indicados pelo médico.

Não pretendo me manter jovem, sei que é impossível, mas me esforço para me manter ativo, e válido...

O peso da idade me fez reconhecer que não haverá um mundo melhor, enquanto não formos capazes de ver e sentir todas as pessoas, desde o mendigo até o pior dos políticos como seres humanos iguais a nós.

Sujeitos à mesma condição humana nossa, usando o banheiro diariamente, vivendo, amando, odiando, sendo felizes ou infelizes como todos.

 E já que não é suficiente dizer que somos todos iguais, é preciso agir para que os outros possam acreditar nisso também.

É ai que pesa a idade, a consciência de que perdemos tempo e que todos perdem tempo e que, como gastamos esse tempo que é todo o nosso tesouro que podemos acumular.

Só quando envelhecemos e que estamos além da paixão, é que percebemos que todo homem é digno de consideração e respeito porque todos são capazes de amar e de pedir perdão.

Hoje sou capaz de imaginar a dor dos outros e sentir profunda compaixão por cada um daqueles que sofrem e até consigo sofrer junto, mas essa é a parte que eu mais dou valor em mim, é minha vitória sobre mim mesmo. 

            Concluo e espero que Deus faça alguma coisa que transforme nossa vida em algo melhor do que ela é, não é fé e sim superstição.

Só a nós cabe a ultrapassagem... São nossos esforços para combater o egoísmo, a ambição, o apego e outras mazelas humanas que faz com que nossa vida seja melhor do que tem sido.

A vida não é algo que se tem, é algo que passa e nos desafia a agir...

Não podemos materializar nossos sentimentos em coisas... Ou no amor...

Isso é perder tempo e é ai que a idade pesa....

 Esquecemos a condição humana... Não há promessas que se cumpram, muito menos garantias, o que existe são possibilidades para se criar oportunidades.

A relação com os outras pessoas, não pode ser somente um processo de elaboração intelectual abstrata... 

           Antes é preciso que seja uma ação pensada e sentida... Mesmo que tudo ameace acabar, a nós compete fazer alguma coisa e, se não formos nós e se não for agora, quem e quando será?

Não podemos continuar a ser esse universo de pessoas abandonadas cada um à sua sorte.

           As outras pessoas não são os inimigos que nos impedem de ser o que queremos ser... São os únicos que podem nos socorrer da angústia, do desespero e da solidão de ser tais como somos.

Somos tais como cristais frágeis nascidos da transpiração de nossos sonhos... Nada nos é dado pronto e acabado.

Juntos nos tornamos personagens de nós mesmos em busca de construir aquilo que devemos ser...

Os outros são o meio e o fim... E esse é todo o peso de toda nossa responsabilidade em existir.

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  Em breve disponível para leitura e-book vol 1 Textos Casuais...                                        

Textos por Alfredo Guilherme


2 comentários:

Unknown disse...

Lindo texto!
Você consegue me deixar as vezes com seus textos,vamos dizer em êxtase, sinceramente.
Parabéns!
A Juventude é uma Ideologia Permanente, Envelhecer faz parte do seu Manifesto!

Alguil disse...

Obrigado pelos seus comentários no blog bjs