quinta-feira, 17 de setembro de 2015

EU ADORO A CHUVA...

  
Desde que eu me conheço eu lembro de mim na minha infância, sempre corria para a janela quando começava a chover, adorava ver no horizonte os raios iluminando e cortando o céu.

Adorava o cheiro de terra molhada subindo na medida em que a água descia, abria os pulmões e aspirava aquele perfume tão primitivo e tão gostoso.

E, com o meu calção de elástico na cintura, corria para o quintal para tomar banho de chuva na maior alegria deste mundo.

Ficava pulando como louco enchia uma caneca da água da chuva e tomava me imaginando um privilegiado e agradecia a água que descia das nuvens.

Eu não entendia como acontecia e tentava manter os olhos abertos para o céu, mesmo com a água lavando minha cara, ficava tentando imaginar de onde ela vinha.

 Minha mãe tentava me convencer que a chuva acontecia através do processo de evaporação, eu não acreditava nem um pouquinho.

Preferia o mistério, o de não saber sabendo... Para mim tinha algo a ver com o Deus, o que os meus pais falavam.

Só que eles não sabiam, eram adultos e nem me davam atenção... Eu me calava, era um momento meu e secreto, só eu conhecia o mistérios, e a verdade. Porque para mim esse Deus que me contavam também era um mistério enorme.

Fui crescendo e aprendendo sobre chuva na escola... Não gostei muito do que soube disso de extratos nimbos e o que se segue.

Desde cedo eu sentia a poesia só de escutar o barulho das águas na enxurrada que descia acelerada no córrego que se formava em frente minha casa.

 Fechava os olhos deixando entrar o som, como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo de se escutar. E sorria, me sentindo um menino feliz...

         Ah! Quanta saudade, que vontade de chorar... Nunca mais foi assim.

Aquela cortina de gotas bem fininhas sendo transpassadas pela luz do poste tinha uma beleza impressionante... Passava horas olhando aquilo, meio que perdido naqueles filetes que escorriam brilhantes.

Eu era um menino solitário naquele momento, meus pais não me deixavam sair de casa para jogar bola na lama no campo de futebol, vou dizer, era uma delicia, eu fugia e ia na maior cara de pau, mas quando eu voltava a cinta comia solta nas minhas pernas e bunda... Hummm... Era foda...!!

Era um tempo de pessoas achavam que a educação entrava pela pele dolorida, ferida e roxa.

Não os culpo, davam o que haviam recebido... Meu pai mesmo foi educado na porrada por sua mãe cabocla e pelo seu pai português, que o internaram no Liceu Coração de Jesus, para estudar, onde ele estudou e conheceu um garoto que ia acabar sendo um dos maiores atores e humorista  negro do Brasil... O saudoso Grande Otelo.

Contava, e rindo, que uma vez fugiu da mãe dele que lhe atirou um tamanco e o prego do calçado pegou em sua orelha e ficou pendurando como um brinco... Já pensou se pega na cabeça? Na cabeça de baixo do...  Cacete...!!!  Talvez eu nem tivesse nascido.

 Chovia muito nesse tempo, São Paulo era a "São Paulo da Garoa"

A chuva ainda hoje me encanta... É só começar a chover que eu corro para a janela e fico assistindo, a cortina de água sob a luz dos holofotes dos postes... Se for a noite... Para mim é um calmante dos mais eficientes para dormir.

 A chuva sempre foi uma festa para mim, parece que ela lava a minha alma. 

Estou falando de chuva, porque estou com saudades de outros momentos na vida adulta que a chuva fez história na minha vida. 

Nunca mais vi uma chuva em São Paulo... A "Terra da Garoa" virou a "Terra da Tempestade" alguns anos atrás... O paulistano ficava até com medo de sair de casa no horário da tarde.

 Os rios e os "piscinões" transbordavam de repente, a água descia brava, em largos pingos enchendo e levando tudo pela frente.

Isso quando não vinha aquelas chuvas de pedradas de granizo quebrando geral tudo.

 Enormes, os granizos perfuravam até as telhados, a gente escutava o barulho, olhava da janela a rua estava cheia daquelas pedras de gelo brancas.

Dia seguinte o noticiário falava de muita gente havia perdido quase tudo e outras até a vida.

Mas agora? Tem até nordestino querendo voltar para a terra deles, não aguentam mais essa secura do cacete... Dizem que lá pelo menos ainda chove um tanto.

E nós paulistanos, vamos voltar para onde, se essa é nossa terra? As represas estão secas, as terras rachando, esturricadas... Estamos tomando o tal do volume morto da água.

E agora ficou pior, os dias estão mais quentes, a água mais necessária e mais escassa, como faremos?

    É só ventar e cair uma garoazinha que sai todo mundo na rua, da para ver nos olhos do povo, aquela esperança, sempre frustrada, de que seja apenas uma garoa e não uma baita chuva.

Mas o que eu queria mesmo era uma boa semana de chuva para normalizar as coisas em minha cidade, e poder curtir...

A chuva à noite, ela é bela demais, parecem cristaizinhos delicados caindo enfileirados...

     Bem por hora só nos resta torcer que ela chegue em boa quantidade em breve, a tempo de nos salvar...

Por Alfredo Guilherme



5 comentários:

Unknown disse...

Eu também gosto da chuva, ela me diz coisas como ninguém.
Para mim é uma magia, sempre gostei de ver a chuva caindo, principalmente escorrendo pela vidraça, aí acontece o mistério, ela sussurra, me envolve de de tal maneira que chego a flutuar.

Unknown disse...

Me fez voltar a infância obrigado por escrever com tanta vida o seu texto Sensacional parabéns sou seu fã

Unknown disse...

Quando chove lembro da minha infância ,quando saia da escola uma felicidade um cheiro de terra da minha terra.parabéns obrigado

Unknown disse...

Quando chove lembro da minha infância tempo de escola ,olhava para o céu cheiro de terra .obrigado parabéns!!

Unknown disse...

Me faz lembra minha infância quando saia da escola olhando para o céu cheiro de terra .quanta saudades .obrigado.