De amores vividos, ou não.
Desde cedo ela se apaixonou pelos homens, primeiro foi por um primo de quem ela ouviu que tinha o queixo da Grace Kelly;... Depois pelo outro primo, boiadeiro, com quem ela sonhou que podia cavalgar por estradas e pastos, cabelos ao vento, em noites de lua nova, cheia, ou minguante, não importava muito o clarão da lua. Não chegou a sair da varanda de casa;... Em seguida por um menino que vinha passar as férias na casa da avó e era doce a espera de onze meses em troca de quase nada; ... Aí veio aquele que estudava para enviar telegramas e desse ganhou um raminho de flores de laranjeira guardado dentro de um caderno qualquer até que se fez pó;... Então veio o que se preparava para ser dentista e de longe o namorava sem que ele soubesse sua presença em todos os dias da semana. Dele ouviu a voz apenas uma vez numa noite de passagem de ano quando ela telefonou engasgada só pra dizer, Feliz Ano Novo!;... Afinal chegou um concreto, de abraços e beijos múltiplos prometendo amá-la para sempre. Quase foi para sempre e nem sempre foram beijos e abraços. Sua ausência doeu quase que pra sempre e dele restou um pouco mais que lembranças de dias bons e outros nem tanto assim;... Ainda um outro que a socorreu quando aprendendo a dirigir derrubou o muro da própria casa. Esse foi estranho e em pouco tempo trocou as roupas de príncipe, pelas de sapo e de tão concreto lhe fez doer a alma e o corpo deixando marcas de um tempo de violências em palavras ditas, em silêncios e ausências carecendo de presença quiçá de afeto. Quando se fez presente deixou-lhe sementes que não puderam nascer, muito menos crescer e florescer. Foi um tempo de tristeza e dor;... Antes ainda, chegaram outros, o que segurou sua mão estendidos na areia da praia e juntos buscaram estrelas em uma noite de verão e aquele que roubado da amiga teve gosto de culpa e quero mais;... E houve mais por um bom tempo;... E outro ainda que antes do amor fumava um cachimbo ao som do Joe Cocker, You are so Beautiful. Sem explicação, logo de trocou-a por outras;... E um e outro sem graça e sem paixão num sábado de solidão ou num domingo de chuva;... Também um que prometeu muito afeto, pediu um dinheiro emprestado e lhe deu uma panela de presente de natal!;... Teve um que de tão proibido só deixou de lembrança a lateral amassada dos carros que se enroscaram na hora do adeus;... Também um que chorava uma namorada que não conseguia esquecer;... Teve um estudante que não sabia fazer amor e outro com beijo lembrando chiclete mascado;... Um outro que lhe ofereceu trocar todas as cortinas da sua casa, ela só aceitou um ramo de flores e uma caixa de bombons;... Aquele ainda, que na praia a noite depois de uma marijuana queria que juntos gritassem palavrões ao vento. Esse também se ofereceu para levá-la a um encontro para sexo grupal. Não aceitou e o amor que era pouco se acabou;... Aí veio aquele como se cantava então “O maior dos meus casos, de todos os abraços o que nunca esqueci”. Durou pouco e só pra ela foi uma história de amor. História? Quem sabe foi mesmo. Um pouco pequena talvez, feita de instantes, horas curtas e poucas semanas. Ainda assim uma história. Desse a lembrança dos beijos vem misturada a um gosto de gim com tônica, o abraço, as conversas ainda moram numa caixinha da memória, os versos num envelope esfiapado e o tempo brinca de apagar e depois soprar umas brasinhas que podem nem precisar de muito vento pra virar uma fogueira. São apenas lembranças vividas com doçura pela noite e com assombro a cada nova manhã; ... Por fim...
Um, que além de lágrimas trouxe risos, sustos, raiva, surpresas, esperanças, muita aventura, medo e extensões de vida. Esse durou muitos verões, esfriou em mais de um inverno, refloriu em algumas primaveras e se arrastou morno e caído por diversos outonos. Tudo caminhava pra ser o derradeiro, sem mais surpresas além de rugas tecidas enquanto dormiam, num arrastar de chinelos a contar dias e meses pra mudança do calendário. Quase sem sonhos possíveis e costurando os fios das memórias faziam projetos de caminhar juntos, de mãos dadas, falando de um tempo que não aconteceu, ou de um sonho que não sobreviveu.
Apoiados cada qual na sua bengala...
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