sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Um… Amante…



Por : Marta Solyszko

            Um amante de evento....


            A cada dois anos se encontravam num país e cidade diferentes para viver uns poucos dias de saudades guardadas, conversas frouxas e silêncios perdidos em abraços e beijos carregados de distância. Ela chamava isso de amante de evento. O último foi num país de neves, flores nos vales, riachos correndo mansos e montanhas e de deslizamentos por declives amorosos foram os dias que duraram o evento. Ela chegaria de avião e ele foi de trem encontrá-la no aeroporto. Voltariam juntos para acidade de onde ele veio. Pensou já ter visto esscena em algum filme. O trem chegando na estação e ela segurando a mala e o casaco  esperando pelo abraço, um abraço de bicho no cio, sem saber se passava a mão nos seus cabelos ou no seu rosto, se apertava suas mãos, acarinhava sua face, ou se esperava ser suspensa no ar e rodopiar, como vira no filme. A saudade era tanta que esqueceu das montanhas, da neve que não havia em seu ensolarado país, das flores nos valesdos riachos lerdos e das gentes que passavam pela estação. 

         Abraçados respiraram, comeram, andaram, conversaram e quase não dormiram por uma semana. Se desenroscavam porque no evento cada qual tinha uma tarefa diferente. No mais do tempo era só amor e devoção. E a semana pulou dias no calendário para ter acabado tão rápido. Nunca os dias tinham sido tão lentos e as noites tão rápidas para tantos abraços, curtidos no caldo de profundos silêncios e ansiosas esperas de  intermináveis dias e meses, sempre muito mais longos pra ela que para o resto dos mortais

         O evento chegou ao fim e a semana também. Enquanto o trem corria entre montanhas, neves, flores e doces riachos, ela decidiu que não queria mais esperar por abraços segurando a mala e um casaco em uma estação de trem e nem em um aeroporto de um país qualquer. E nunca mais se encontraram.

 

 





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