sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Crônica : O caos verbal…

      


     Conversa Vai, Conversa Vem…

    Tem gente que não só fala demais, como fala muito!!! isso é verdade. Mas tem gente que abusa do poder da língua, na ajuda nesse quesito, indo além de qualquer limite imaginável. O tipo de pessoa que, se deixar, conversa com ela mesma pela manhã no espelho do banheiro escovando os dentes, fala com o  armário, “Aí que roupa que eu ponho” , com o cachorro do vizinho, e até com a sombra da bicicleta encostada no muro. E se ela receber um bom dia no WhatsApp, aí vou falar, vai dar ruim, ela vai esticar a conversa até a hora de fazer o almoço.

    Conheço alguém assim. A gente está tomando um café e pronto, o monólogo começa. Não importa o tema, falar da vida de parentes próximos, política, receita de bolo, o último livro que não leu, mas que ouviu falar, e a novela que viu só pela metade, mas que já sabe o final. Às vezes me pergunto se essa pessoa respira ou se já desenvolveu um sistema autossuficiente de ar e de fala contínua.

     O problema maior, no entanto, é quando ela leva isso pra rua. Atravessou a portaria do prédio, o perigo começa. Vai ao mercado e, no corredor das frutas, puxa papo com o repositor das frutas com a moça ao lado, discute sobre o aumento dos preços, com a caixa do mercado. Vai na farmácia, e logo já está perguntando para o balconista se ele também sente dor nas costas quando acorda. Esperando o ônibus, você sente a cobertura do ponto do ônibus tremendo só de saber que ela está ali presente. Se o ônibus demora cinco minutos, pobre de quem está esperando junto. Se não interagir, a pessoa se sente na obrigação de contar detalhes da vida. O desconhecido, coitado, entra em modo de sobrevivência, responde por educação, mas já lamenta o ônibus dele estar demorando tanto e não ter trazido fones de ouvido.

     O mais curioso é que não há necessidade de resposta para ela. Na verdade, é como se a conversa fluísse em um circuito fechado, onde a presença do outro é só o ponto de partida, porque, convenhamos, diálogo não precisa de plateia, mas monólogo... esse, sim, precisa.

     Certa vez, dando carona a ela a caminho de sua casa, parei na esquina com o sinal vermelho, ela olhou na direção do semáforo e, por um momento, senti que ia dar “marche”, entre os dois, meu olhar paralisou nela. Ela olhou para o semáforo com ar de intimidades e deu um bom-dia cheio de entusiasmo. Não satisfeita com o cumprimento, o semáforo foi alvo de uma reflexão profunda seguido de um comentário sobre o valor que ele tem no comando do trânsito diariamente. Se ele não estivesse tão ocupado na disciplina de fluxo de veículos e pudesse responder, aposto que teria opinado com ela, sobre a estatística de acidentes de atropelamento na faixa de pedestres.

      O mais engraçado é que o mundo parece conspirar para essas pessoas. Elas têm um dom, uma espécie de radar, que capta outros que gostam de falar ou, pior, os que apenas querem ouvir. Nessas horas, desconfio que as cidades grandes foram feitas para essas almas. Há sempre um estranho para encontrar, sempre uma oportunidade de transformar um momento de silêncio em um festival de palavras.

      Mas sabe de uma coisa? No fundo, acho que pessoas assim são necessárias. O mundo anda tão silencioso em muitos sentidos, tão preso nas telas dos celulares, e notebook, que a conversa,  por mais incessante que seja, talvez seja o que nos falta. Talvez, quem sabe, até o semáforo, no seu imponente trabalho, gostaria de ter alguém para conversar.

       Enquanto isso seguimos na escuta e no fluxo de uma enxurrada de palavras, de pessoas como ela, torcendo para que, um dia, a conversa nos dê uma pausa. Acho que neste caso só Jesus na causa…


        Por Alfredo Guilherme 



4 comentários:

Anônimo disse...

Kkkkkkk amigo tenho um pessoa assim aqui em casa quando ela sai de carro comigo ela é como o app wase, sai indicado o caminho é a velocidade que estou dirigindo adorei o sua crônica!!!!

Anônimo disse...

Eu me vi no seu texto adoro falar até pelos cotovelos kkkk

Anônimo disse...

Kkkk Este texto serve pra tanta gente parabéns amigo

Anônimo disse...

A minha senhora fala muitooo por isso arrumei pra ela ser voluntária numa ong de aconselhamento conjugal kkkk tá toda feliz fala a tarde toda no telefone da ong