quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Um conto contado: Lembranças de um amor perdido…



      A noite, com seu manto de estrelas silêncios são quebrados, se tornando cúmplice dos corações inquietos. Na boêmia, as ruas se tornam um labirinto, onde cada esquina traz um fragmento de memórias e onde os bares se tornam santuários.

      A cidade, com suas luzes trêmulas e sombras dançantes, parecia um grande palco de saudade. Era uma noite em que as lembranças pesavam no peito, e os bares se transformavam em portais para o passado.

     Ela caminhava pelas ruas, envolvida pela música distante de um saxofone, o tilintar de copos e o murmúrio das conversas alheias. Cada bar era uma aposta, uma esperança de que ele estivesse lá, sentado em uma mesa de canto, como costumava fazer, rindo de alguma piada ou mergulhado em pensamentos.

     No primeiro bar, encontrou a alegria exagerada de quem busca esquecer, mas não o rosto que procurava. No segundo, um poeta recitava algo sobre amores impossíveis, e suas palavras ecoaram dolorosamente no coração dela. No terceiro, já com os olhos marejados, pediu um vinho e se deixou envolver pela melancolia da noite.

     As lembranças vinham em ondas de saudades ao lembrar do jeito que ele olhava, a forma como sua risada iluminava qualquer espaço. Ela não sabia ao certo o que esperava encontrar, talvez um reencontro milagroso, ou apenas uma confirmação de que certas histórias ficam mesmo para trás.

     Quando chegou ao último bar, um cantor com seu violão estava cantando esse refrão da canção Ronda, De noite eu rondo a cidade/ A te procurar sem encontrar/ No meio de olhares espio/ Em todos os bares/ Você não está.../ Volto pra casa abatida/ Desencantada da vida/ O sonho alegria me dá/ Nele você está. A musica fez alimentar ainda mais a saudades que nela estava transbordando. 

    Quase sem esperança, percebeu algo diferente em alguém que ali estava. Não era ele, mas outra pessoa que carregava a mesma aura de nostalgia, um estranho que parecia perdido em seus próprios pensamentos. Eles trocaram olhares e um breve sorriso, como quem reconhece a solidão um no outro.

     A noite não trouxe o reencontro que ela desejava, mas a boêmia lhe deu algo mais, a certeza de que as lembranças não eram um fardo, mas um tributo a um amor que, de alguma forma, continuava vivo dentro dela.

     E assim, sob o céu que começava a clarear, ela decidiu que a busca havia terminado. Saiu do bar cantarolando... parte da musica Ronda... Volto pra casa abatida/ Desencantada da vida/ O sonho alegria me dá/ Nele você está /  

    Às vezes, é no meio do barulho e da confusão que a gente encontra a resposta que o coração precisava ouvir, a de que o amor perdido não precisa ser encontrado para continuar existindo.

    
       Por Alfredo Guilherme



Ronda/ compositor Paulo Vanzolini


8 comentários:

Anônimo disse...

Que gostoso vivenciar esse seu conto uma viagem ao romantismo e a boemia

Anônimo disse...

Gui você recebe estas inspirações vinda do Céu, mais é neste dom que tem para falar sempre algo que alguém já passou, Parabéns sempre ador o que escreve.

Anônimo disse...

Seu texto aborda a boêmia como cenário de um mergulho emocional profundo, no qual as ruas, bares e músicas tornam-se cúmplices das memórias e saudades. Ótimo texto

Anônimo disse...

A boêmia, com seu charme noturno, amplifica as dores e esperanças de quem se deixa envolver por ela amando!!!!

Anônimo disse...

Penso que a maioria das pessoas já viveu....e carrega uma história assim!

Anônimo disse...

Que gostosa boêmia esse texto onde o amor se faz presente muito bom meu amigo!!!

Anônimo disse...

A busca por um amor perdido, não é apenas uma tentativa de reencontro físico, mas um enfrentamento das próprias emoções e do significado desse sentimento no presente.

Anônimo disse...

A música, especialmente "Ronda", de Paulo Vanzolini, é evocativa e conecta a gente à essência da busca, em uma tentativa de reencontrar algo que foi, mas que ainda vive em forma de saudade… Parabéns pelo texto amigo Alfredo fiquei emocionado…