sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Um conto contado : A dança do vento…

 


                    

    A tarde se fez ensolarada e quente, dissipando as lembranças da manhã chuvosa. A jovem,Tais caminhava de volta para casa, subindo o morro, quando se viu refletida nas pequenas poças d’água espalhadas pelo chão. Em uma delas, de água cristalina, seu reflexo parecia diferente, quando o vento levantou a sua saia branca, o movimento ficou mais grandioso, e encantador.

    Naquele instante, ela não era apenas Tais. Era Marilyn Monroe, de vestido branco esvoaçante, não em Hollywood, mas na rua de paralelepípedos que serpenteava até a entrada vibrante da comunidade no morro. O cenário era outro, mas o sentimento era o mesmo, um misto de encanto e liberdade.

    Ao chegar em casa, subiu na laje de seu humilde lar, onde o vento sempre soprava forte, trazendo consigo o cheiro do mar distante. Fechou os olhos e sentiu a brisa fresca envolver sua pele, como um convite para dançar.

    A cada passo, a cada sorriso, a cada giro na laje, os moradores que por ali passavam olhavam perplexos e sorriam, como se ela fosse uma rainha em seu reino de telhas, e tijolos expostos. O vento, cúmplice, levantava delicadamente o tecido de seu vestido imaginário, fazendo-o flutuar como uma nuvem ao seu redor. Naquele instante, ela não estava apenas ali, ela era parte do vento, da cidade, da vida pulsante ao seu redor.

    Do alto, via a comunidade em sua plena existência, crianças correndo e rindo, um samba nascendo no quiosque próximo, na batida das palmas das mãos ecoando nas ruas, junto com o aroma sedutor de comida caseira escapando das janelas. Tais sorriu. Percebeu que Marilyn não era apenas um ícone distante, mas uma essência, um estado de espírito.

    Ser Marilyn era ter coragem. Era encontrar beleza e alegria, mesmo nos lugares mais inesperados.

    Ao descer da laje, seu coração estava leve. Sabia, no fundo, que todas as mulheres carregavam um pouco de Marilyn dentro de si prontas para subir às alturas e deixar seus espíritos voarem livremente.

    Sonhar é abrir portas para mundos onde tudo é possível. É alimentar a alma com esperança e criatividade. É transformar um paralelepípedo qualquer em uma calçada estrelada da fama.

    E, naquela tarde, Tais sonhou. E, por um breve instante, foi eterna.


Por Alfredo Guilherme