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Gosto de caminhar por esta parte da cidade olhando os
velhos edifícios, as pessoas, os carros, a vida intensa desta metrópole, enfim...
Quando percebi, depois de passar
pelo terreno onde era a antiga Estação Rodoviária, dei de cara com um
quarteirão lotado de pessoas. A polícia rodeava como em um cordão de
isolamento.
É a chamada Cracolândia.
Apesar de viver em São Paulo,
ainda não havia visto assim de tão perto.
Homens e mulheres pedaços de seres humanos com olhar perdido me encarando como se eu fosse de outro planeta...
Homens e mulheres pedaços de seres humanos com olhar perdido me encarando como se eu fosse de outro planeta...
Fui atravessando no meio deles
prevenido, pensando até que fossem mexer comigo, havia centenas de
pessoas, magros, secos, sujos, barbados, olhos vermelhos lembrando zumbis de filme de cinema, o pior que muitas pessoas dizem - Ah foda-se isso e problema para o Governo e a Prefeitura resolverem.
Quando ja estava na metade do
quarteirão já tinha certeza que eram só pessoas sofridas até os ossos, e que não
me fariam mal algum.
Alguns até se encolhiam à minha
passagem... Meu coração se apertou, a vontade era de socorrer, fazer alguma
coisa, sei lá...
A maioria era composta de
jovens e seus rostos estavam escuros, apagados e alguns até machucados.
"Patinhos feios da nossa sociedade hipócrita".
"Patinhos feios da nossa sociedade hipócrita".
Pareciam vítimas de uma
inundação, incêndio, tsunami, alguma coisa assim catastrófica e muito dolorida.
Continuei andando, as pernas me
levavam para a frente, mas a minha alma se esticava tentando conforta-los... Deu
vontade sentar ali no meio e ficar sem fazer nada, olhando, olhando até morrer
de vergonha por ser mais um na sociedade que nunca pensou ou tentou de alguma forma ajudar essas tristes pessoas...
Se bem que alguns anos atrás eu fiz a minha parte, trabalhando depois já de ter aposentado no Estado, fui convidado por uma amiga minha assistente social para trabalhar como educador em um albergue com pessoas em situação de rua, pude sentir de perto este lado da sociedade, criei o primeiro Campeonato de Futebol de Albergados de S.P, foi um sucesso pena que não deram continuidade, nele jogaram ex jogadores que jogaram na Europa.
Cetale ex zagueiro, que jogou ao lado do Garrincha no Botafogo foi um deles, nos tornamos grandes amigos, e ele me contou a linda história como jogador, ele começou a sua carreira no Corinthians, e a sua triste história com a cocaína, ele faleceu em 2013 com falência múltipla de órgãos.
Se bem que alguns anos atrás eu fiz a minha parte, trabalhando depois já de ter aposentado no Estado, fui convidado por uma amiga minha assistente social para trabalhar como educador em um albergue com pessoas em situação de rua, pude sentir de perto este lado da sociedade, criei o primeiro Campeonato de Futebol de Albergados de S.P, foi um sucesso pena que não deram continuidade, nele jogaram ex jogadores que jogaram na Europa.
Cetale ex zagueiro, que jogou ao lado do Garrincha no Botafogo foi um deles, nos tornamos grandes amigos, e ele me contou a linda história como jogador, ele começou a sua carreira no Corinthians, e a sua triste história com a cocaína, ele faleceu em 2013 com falência múltipla de órgãos.
Quando os ultrapassei por completo dei um
grande suspiro involuntário, dei uma boa golfada de ar nos meus pulmões para me recuperar do triste visual.
Mas fui em frente, rezando e pedindo uma intervenção divina...
Na minha mente veio a lembrança de uma
história impressionante que ouvi quando estive no Rio de Janeiro.
Uma amiga contou que uma colega
de trabalho havia acabado de perder o filho para as drogas.
O rapaz usava o tal do crack... Imediatamente imaginei o garoto ali no meio daquela gente triste.
Segundo minha amiga, a mãe lhe confessou que em vez de chorar por haver perdido o único filho, e que sentiu gana de abrir o caixão e encher de porrada o defunto... Ela dizia, que
havia aconselhado, batido, socorrido, inúmeras vezes, mas não adiantava.
Era ela sair para trabalhar e o
rapaz saia atrás da droga e sumia por dias no meio de outros infelizes
drogados... Ela ia procurá-lo e quando encontrava era preciso espancar, arrastar na porrada para levá-lo para casa novamente.
Dava banho, cuidava dos ferimentos, alimentava
e o colocava para dormir com o a um bebê.
Passava alguns dias e o rapaz
sumia novamente... Ela cansou, e acabou por recebê-lo morto.
Fora assassinado por outros
drogados...
Não tinha mais lágrimas, apenas
uma raiva cega que fazia odiá-lo ali no caixão... Disse que precisou conter a
fúria que a fazia tremer de cima abaixo o tempo todo do enterro e até quando o
caixão desceu na sepultura.
Imaginei que aqueles jovens ali
na Cracolândia, também tivessem mães, e o que estariam sentindo, essas pobres mulheres
tão vitimas também dos traficantes e policiais corruptos, que banharam seus filhos de drogas...
Por Alfredo Guilherme
Por Alfredo Guilherme
Um comentário:
Foi muito triste que você vivenciou.
A primeira vez que deparei com eles fiquei chocada,isto porque estava acostumada à distribuir sopão nas ruas de São Paulo e sempre encontrava cenários assustadores.
Mas a Cracolândia é Indescritível!
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