sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Conto Contado: Artista de Rua…



        No caos vibrante da cidade, entre a pressa dos transeuntes e o som constante dos carros, Gael encontrava seu refúgio. Era ali, nas ruas movimentadas, que ele expressava sua arte, pincelando com maestria os detalhes do cotidiano. As cores em suas telas refletiam a vida que passava diante de seus olhos, cada quadro uma nova história, um momento capturado.

       Gael era um artista plástico de rua. Ele se posicionava estrategicamente em uma esquina movimentada, onde a variedade de rostos e expressões lhe oferecia uma fonte inesgotável de inspiração. Com suas mãos habilidosas, transformava o ordinário em extraordinário, cada pincelada um testemunho da beleza escondida no cotidiano.

       Uma tarde, enquanto pintava um retrato de um velho músico de rua, Gael avistou algo que mudaria sua vida. Entre a multidão apressada, ele viu um rosto que o fez parar. Era uma mulher, com um semblante iluminado por uma beleza serena e indescritível. Seus olhos carregavam um mistério, e seu sorriso era um convite ao desconhecido. Gael sentiu uma conexão instantânea, uma necessidade ardente de capturar aquela imagem na tela.

       Com o coração acelerado, Gael começou a pintar. Cada movimento da mulher, cada expressão, um leve sorriso com o canto da boca seu olhar era rapidamente transferido para a tela. Ele desejava capturar não apenas sua aparência, mas a essência de sua beleza, a história que seus olhos contavam. No entanto, a mulher depois de uns minutos, continuou a caminhar, bem devagar misturando-se à multidão, tornando-se parte do fluxo incessante da cidade.

       Desesperado para não perdê-la de vista, Gael tentou acompanhá-la com o olhar, mas em poucos instantes, ela desapareceu na massa de pessoas. Ele se sentiu como um poeta que perde as palavras no momento crucial, um músico que esquece a melodia. No entanto, a breve visão daquela mulher tinha deixado uma marca indelével em sua mente e em seu coração.

       Nos dias que se seguiram, Gael voltou ao mesmo lugar, esperando vê-la novamente. Ele pintou dezenas de rostos, cada um com uma sombra da mulher que havia visto. Cada tela era uma tentativa de recriar aquele momento, de encontrar novamente aquele olhar. Ele perguntava aos passantes se a tinham visto, descrevia-a com detalhes, mas ninguém parecia conhecê-la.

      O tempo passou, mas a imagem daquela mulher continuava a inspirar Gael. Seus quadros, agora mais profundos e emotivos, atraíam a atenção de muitos. As pessoas se sentiam tocadas pela paixão e pela saudade que ele imprimia em cada obra. Gael havia se tornado um artista reconhecido, mas o vazio deixado pela mulher desconhecida ainda o acompanhava.

      Uma noite, enquanto Gael recolhia suas coisas após um longo dia, uma jovem que havia comprado tempos atrás uma das várias telas com o rosto da mulher que ele se inspirava, a jovem se tornou sua admiradora, se aproximou. Segurando a pequena tela nas mãos. Era o retrato da mulher que ele tanto buscara. Já sabendo da história ela perguntou com um sorriso …"Você a encontrou ?"…

      Gael, surpreso, explicou desta vez em detalhes sua história, a busca incessante pela mulher que inspirara sua arte. A jovem sorriu e disse: "Ela é minha prima, viajou para o exterior pouco depois que você a viu. Conversei com ela a respeito de sua história. Ela mandou essa carta para te entregar. 

      Com mãos trêmulas, Gael abriu a carta e leu as palavras que sua musa havia escrito. Ela explicava que, embora tivessem se encontrado apenas por um momento, aquele encontro também a havia marcado profundamente. Ela reconhecia a beleza de sua arte e esperava que ele continuasse a pintar com o mesmo amor e paixão.

      Gael sentiu uma paz profunda ao ler aquelas palavras. Sabia que talvez nunca mais a veria, mas seu breve encontro havia dado um novo propósito à sua arte. Continuaria a pintar, a capturar a beleza do cotidiano, sabendo que em algum lugar, sua musa também o lembrava com carinho.

      Assim, Gael se tornou não apenas um artista de rua, mas um contador de histórias, cada tela uma homenagem à mulher que transformara sua visão do mundo. E mesmo que nunca a visse novamente, ela viveria para sempre em suas cores e pinceladas.


       Por Alfredo Guilherme 



Um comentário:

Anônimo disse...

Gostaria de ver a continuação desse amor gostoso de ler