domingo, 22 de setembro de 2024

Crônica : A idade é essa... Eu só quero é ser feliz…

 


     Você nunca imaginou que isso aconteceria. Não depois dos 60. A vida já estava acomodada, você com seus hábitos bem estabelecidos, os filhos já criados, os netos crescendo, ou já até formados e aquela rotina tranquila que parecia ser o caminho natural. Mas aí, de repente, você se apaixona. Sim, você. Depois dos 60.

     E agora, o grande dilema, como contar isso para os filhos? Sim aquelas belezuras que a gente limpou a bundinha e agora acham que ficamos sem o poder da assimilação dos fatos. Você já se pegou ensaiando várias vezes, procurando as palavras certas para que não pareça ridículo, para que eles entendam que, mesmo com a idade, o coração não perde a capacidade de se surpreender. É pode disparar por alguém.

    Quando finalmente decide falar, a reação deles é tudo que você já esperava surpresa, talvez até um pouco de descrença. “Você, mãe? Apaixonada? Como assim?” Ou, “Pai, sério? Você acha que precisa disso agora?” Eles falam com cuidado, como quem não quer magoar, mas a preocupação está estampada nos olhos. Para eles, você já tinha encerrado essa fase da vida, como se o amor tivesse data de validade, como se apaixonar fosse privilégio da juventude.

     Mas o que complica ainda mais a situação é quando eles descobrem que a pessoa por quem você se apaixonou tem um poder aquisitivo menor que o seu. É aí que os olhos se estreitam e a preocupação cresce. A primeira coisa que eles pensam? "Será que é um golpe?"

    Você tenta explicar, com aquela calma que só os anos trazem, que a vida não se encerra aos 60. Que, mesmo depois de todo o tempo vivido, ainda há espaço para novas descobertas, novas emoções. Sim, você sabe que eles estão preocupados, acham que você pode estar sendo ingênuo, vulnerável e se por acaso vier a tomar às azulzinhas pra dar um "up" mais consistente no sexo, o velho coração vai explodir. Mas o que eles não percebem é que, depois de tanto tempo, você aprendeu a identificar o que é real, o que é verdadeiro.

    Eles acham que você está em busca de preencher um vazio, que talvez a solidão tenha pesado. Mas o que eles não entendem é que essa paixão que chegou agora não é um remendo, não é uma fuga. É algo a mais, algo que veio acrescentar alegria à sua vida. É o despertar de sensações que você achou que estavam adormecidas para sempre, a felicidade de redescobrir o mundo com outro alguém ao lado, sem a pressa ou as ilusões da juventude.

    E aí, eles fazem a pergunta que você já antecipava: “E se não der certo?” Como se existisse uma regra, uma garantia, para que as coisas sempre funcionem a contento. Você já viveu o bastante para saber que o amor, em qualquer fase da vida, é uma aposta. Não é a segurança de um final feliz que importa, mas a jornada, o que você sente agora, o que vive agora.

    Com o tempo, eles vão se ajustando à ideia. Vai demorar um pouco até que aceitem aquele convite para um almoço de domingo onde o "novo amor do pai" ou o "novo companheiro da mãe" estará presente. Mas você não tem pressa. Seu amor não precisa de aprovação, só de espaço para existir, no seu próprio tempo.

     O que você quer que seus filhos entendam é tudo tão simples assim, você continua sendo a mesma pessoa que sempre foi, aquela que eles conhecem tão bem. Mas agora, além de tudo, você está apaixonado. E isso, nessa fase da vida, é uma espécie de renascimento, uma chance que poucos têm. Em ter esse  amor mais leve, mais sereno, mas nem por isso menos intenso.

     E quando finalmente aceitarem, porque eventualmente aceitam, talvez até perguntem a você como é possível. Como é que o amor pode atingir a vida de alguém nessa etapa, depois de tanto tempo. E aí, você vai sorrir e dizer que, na verdade, o amor não tem hora, não tem idade. Ele só acontece, e é um presente que se deve acolher, seja aos 20, aos 40, aos 60 ou aos 70 daí pra frente é só apertar o botão do foda-se e cair pro abraço…


      Por Alfredo Guilherme



4 comentários:

Anônimo disse...

Vou mandar para os meu filhos essa postagem!!! Para eles acordarem kkkkk

Anônimo disse...

Realmente é uma dor de cabeça quando conhecemos alguém valeu amigo

Anônimo disse...

O texto nos lembra de que o amor, passa por momentos de descoberta, euforia, amadurecimento e transformação, o que nos faz refletir sobre como as relações na maior idade se constroem Muito bom !!!!!!

Anônimo disse...

Que texto precioso verdadeiro muito mas muito bem escrito o assunto abordado muito precioso para muitas pessoas, Parabéns você realmente é um grande escritor adorei o tema !