A positividade tóxica e a tragédia endêmica reflete a seriedade e enfatiza a necessidade de um equilíbrio entre o reconhecimento do sofrimento e a busca por esperança e mudança, representam dois polos opostos na maneira como lidamos com a realidade.
Ambos são reações extremas que podem nos distanciar de uma compreensão mais equilibrada dos desafios que enfrentamos no dia a dia, especialmente em tempos de crises contínuas.
Positividade tóxica, este conceito se refere à insistência em manter uma visão excessivamente otimista, mesmo quando as circunstâncias claramente não o justificam. É uma forma de pressão social que faz com que as pessoas sintam a necessidade de suprimir emoções negativas e mascarar o sofrimento. Frases como “tudo vai dar certo”, “pense positivo”, ou “poderia ser pior” podem, em vez de ajudar, invalidar sentimentos legítimos de dor, frustração e angústia.
O problema central dessa positividade é que ela ignora a complexidade da experiência humana. Ela nega a validade do sofrimento, fazendo parecer que sentimentos de tristeza, raiva ou desespero são falhas pessoais, e não reações normais a situações difíceis. Ao fazer isso, muitas vezes impede o enfrentamento adequado das realidades adversas. Quando nos forçamos a pensar que devemos estar sempre bem, acabamos por reprimir nossos sentimentos, o que pode levar ao esgotamento emocional e ao isolamento, pois nos sentimos incapazes de compartilhar nossas dores sem sermos julgados.
Por outro lado, temos a “tragédia endêmica”, que representa uma percepção de que certas crises são permanentes e inevitáveis. É a aceitação quase resignada de que desastres sociais, econômicos ou ambientais fazem parte da estrutura cotidiana e que pouco pode ser feito para mudá-los. No contexto de um país como o Brasil, onde crises sistêmicas, como corrupção, violência e desigualdade, parecem constantes, essa visão pode se tornar uma maneira de sobreviver em meio a uma realidade aparentemente inalterável.
Essa tragédia, no entanto, tem um efeito paralisante. Ela pode gerar apatia e desengajamento, pois a crença de que o desastre é inevitável enfraquece a vontade de lutar por mudanças. Ao aceitar a tragédia como algo inerente à sociedade, muitos se tornam passivos diante de injustiças, acreditando que seus esforços não terão impacto real. Essa perspectiva é perigosa porque, ao normalizar a crise, reforçamos sua continuidade. Desse modo, a tragédia não é apenas uma consequência de forças externas, mas também de nossa aceitação coletiva da inércia.
A dicotomia entre a positividade tóxica e a tragédia endêmica revela a dificuldade que temos em encontrar um caminho intermediário. De um lado, o otimismo forçado nos desumaniza ao nos impedir de lidar com nossas vulnerabilidades, do outro, a aceitação da tragédia como destino nos priva de esperança e da capacidade de mobilização.
O desafio, portanto, é encontrar um equilíbrio. Precisamos reconhecer e validar o sofrimento e a realidade das crises, sem perder de vista a possibilidade de mudança. O sofrimento, quando reconhecido, pode se tornar uma força transformadora. Precisamos permitir que emoções negativas existam sem deixar que nos dominem, e devemos, ao mesmo tempo, reconhecer a profundidade das crises sociais sem cair no cinismo ou na resignação.
Esse equilíbrio exige uma visão crítica e realista do mundo, mas também um compromisso com a ação. Não se trata de negar a dor ou as dificuldades, mas de reconhecê-las enquanto buscamos soluções possíveis. A mudança começa quando aceitamos a verdade dos nossos desafios sem desistir de encontrar caminhos para superá-los.
Por Alfredo Guilherme
5 comentários:
Essas duas perspectivas, embora opostas, acabam gerando distorções na nossa capacidade de enfrentar os desafios de maneira equilibrada e realista. Ótimo texto !!!
Um equilíbrio entre essas duas visões. Não podemos ignorar a dor e o sofrimento eles precisam ser reconhecidos e vividos por nós !!!!!
Estava com saudades das suas postagens gosto da forma como vc encontra tantos temas falando de amor .... A visão de que o amor pode atingir uma dimensão de "eternidade" destaca o impacto duradouro que ele tem em nossas vidas.
O perigo está em criar uma falsa ideia de que o simples "pensar positivo" resolve questões profundas, quando, na verdade, elas exigem atenção, reflexão e, muitas vezes, enfrentamento direto.... Valeu pelo texto
👏🏾👏🏾👏🏾
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