O apartamento está quieto como sempre, mas hoje a solidão parece mais presente. Na mesa, da varanda, o café está pronto, exalando o mesmo aroma que tantas vezes preencheu nossas manhãs. A cadeira do outro lado, vazia, guarda o espaço de quem um dia ocupou esse silêncio com conversas e sorrisos. Eu sempre gostei das nossas manhãs, sabe? Daquele ritual de tirar o miolo do pão, repetir o café, discutir trivialidades e, às vezes, nem falar nada, só estar. Agora, é só o som do relógio na parede, contando os minutos que já não importam tanto.
Olho pela janela da varanda o sol entrando suavemente, iluminando a pequena mesa onde costumávamos sentar juntos. Lembro das nossas conversas. Aquelas promessas de que o tempo jamais apagaria o que sentíamos, que a vida seria sempre nossa cúmplice. Eu acreditei que o “para sempre” era real, que o amor, quando forte o suficiente, sobreviveria a tudo. Mas o tempo é traiçoeiro, e às vezes ele leva o que parecia impossível de partir.
Termino o café, devagar, como se cada gole fosse um pequeno resgate do passado. Tento não me perder nas memórias, mas elas vêm sem pedir permissão. Lembro do jeito que você segurava a xícara, dos seus olhos que sorriam antes dos seus lábios.
Do jeito como você transformava os dias simples em especiais, mesmo que fosse só mais uma manhã como tantas outras. Você fazia tudo parecer eterno. Eu acreditava nisso.
Agora, a eternidade ficou no passado, e o presente é só meu. Ainda sinto o eco do que fomos, mas a vida segue, mesmo que o coração demore a acompanhar. A varanda gourmet do apartamento continua sendo o meu refúgio, mas já não é mais o nosso.
Mesmo assim, a luz do sol insiste em iluminar as manhãs. Teimoso como sou, continuo a deixar a janela aberta, como quem ainda respira no ar um pouco de você. Como se ainda habitasse em cada detalhe da manhã. Quem sabe o amanhã não guarda alguma surpresa? Fazendo com que a inevitável lei da vida e seu ciclo nos faça valorizar mais os momentos presentes, pois eles são essenciais.
Por Alfredo Guilherme
4 comentários:
Adorei amigo
Temos realmente que valorizar mais os momentos presentes, pois eles são mesmo essenciais.
Bom texto me toucou fundo
Lindo texto. Quantas lembranças, quanto amor.
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