terça-feira, 29 de outubro de 2024

Colecionador…


    Se eu fosse um colecionador, não guardaria nada físico, nada que pudesse caber em uma caixa ou ser pendurado em uma parede.  

    Mas, se fosse para ter um pedacinho de quem amamos, guardaria aqueles momentos que parecem insignificantes, mas que dizem tudo.

    Guardaria o som da risada inesperada, aquela que escapa em meio a um silêncio, quando uma piada interna surge e explode como um trovão em um céu limpo. Encaixotaria também os olhares que dizem “vai ficar tudo bem”, mesmo quando sabemos que não vai. Esses olhares são pontes que nos amarram, como âncoras.

     E talvez eu tentasse capturar um dos gestos dela, o jeito que empurra o cabelo para trás da orelha ou como entrelaça os dedos quando fica nervosa, ou mesmo quando umidece os lábios com a língua, me olhando com desejos. Esses são os detalhes que só quem observa com amor percebe, fragmentos de personalidade tão únicos quanto impressões digitais. Quem sabe eu até conseguisse guardar o toque leve da  mão, uma lembrança de calor que fica mesmo quando a pele esfria.

     Na minha coleção, também teria o seu cheiro, como quando se afasta e o rastro do perfume ainda paira no ar, fazendo-a permanecer, mesmo quando já partiu. E guardaria o jeito dela se despedir, aquele aceno suave, um tchau que parece dizer “volto já”, mesmo que seja só para voltar na próxima manhã.

     Se eu fosse colecionador, teria uma prateleira inteira só de memórias pequenas, mas infinitas. Cada fragmento seria uma parte dela, uma lembrança que me faria sorrir nos dias de saudade. Porque, no fundo, a melhor coleção não é feita de pedaços físicos, mas de momentos que, na  simplicidade, guardam todo o universo do amor.


     Por Alfredo Guilherme 




domingo, 27 de outubro de 2024

Um Conto: - Seus olhos sorriam antes dos seus lábios…

 


       O apartamento está quieto como sempre, mas hoje a solidão parece mais presente. Na mesa, da varanda, o café está pronto, exalando o mesmo aroma que tantas vezes preencheu nossas manhãs. A cadeira do outro lado, vazia, guarda o espaço de quem um dia ocupou esse silêncio com conversas e sorrisos. Eu sempre gostei das nossas manhãs, sabe? Daquele ritual de tirar o miolo do pão, repetir o café, discutir trivialidades e, às vezes, nem falar nada, só estar. Agora, é só o som do relógio na parede, contando os minutos que já não importam tanto.

     Olho pela janela da varanda o sol entrando suavemente, iluminando a pequena mesa onde costumávamos sentar juntos. Lembro das nossas conversas. Aquelas promessas de que o tempo jamais apagaria o que sentíamos, que a vida seria sempre nossa cúmplice. Eu acreditei que o “para sempre” era real, que o amor, quando forte o suficiente, sobreviveria a tudo. Mas o tempo é traiçoeiro, e às vezes ele leva o que parecia impossível de partir.

     Termino o café, devagar, como se cada gole fosse um pequeno resgate do passado. Tento não me perder nas memórias, mas elas vêm sem pedir permissão. Lembro do jeito que você segurava a xícara, dos seus olhos que sorriam antes dos seus lábios.   

     Do jeito como você transformava os dias simples em especiais, mesmo que fosse só mais uma manhã como tantas outras. Você fazia tudo parecer eterno. Eu acreditava nisso.

     Agora, a eternidade ficou no passado, e o presente é só meu. Ainda sinto o eco do que fomos, mas a vida segue, mesmo que o coração demore a acompanhar. A varanda gourmet do apartamento continua sendo o meu refúgio, mas já não é mais o nosso. 

     Mesmo assim, a luz do sol insiste em iluminar as manhãs. Teimoso como sou, continuo a deixar a janela aberta, como quem ainda respira no ar um pouco de você. Como se ainda habitasse em cada detalhe da manhã. Quem sabe o amanhã não guarda alguma surpresa? Fazendo com que a inevitável lei da vida e seu ciclo nos faça valorizar mais os momentos presentes, pois eles são essenciais.


      Por Alfredo Guilherme 


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Crônica: Posso ver sua identidade ?….



Em um mundo onde a busca pela identidade é constante, muitas vezes nos encontramos perdidos em meio à fragmentação da sociedade moderna. Nesse contexto, surge uma pergunta que ecoa em nossas mentes de forma inconsciente. "Posso ver a sua identidade?". Mas o que realmente queremos dizer com isso?

Essa pergunta vai além de uma simples solicitação por documentos ou informações pessoais. Ela reflete a necessidade humana de compreender quem somos e com quem estamos nos relacionando. No entanto, em um mundo cada vez mais fragmentado e angustiante, entender essa questão torna-se um desafio.

Quando conhecemos alguém, seja em um encontro casual ou em uma busca mais profunda por conexão, estamos buscando entender sua essência, sua verdadeira identidade. Queremos saber o que a pessoa gosta, o que a move, quais são seus sonhos e medos. Queremos enxergar além das máscaras sociais e das projeções externas.

No entanto, essa tarefa não é fácil. Vivemos em uma era de superficialidade e aparências, onde as redes sociais nos apresentam versões editadas e idealizadas de nós mesmos. É difícil discernir o real do fictício, o genuíno do fabricado.

Diante desse desafio, nos vemos navegando em um mar de incertezas e dúvidas. Quem realmente somos? Quem são aqueles com quem nos relacionamos? Como podemos construir conexões autênticas em um mundo tão fragmentado?

Apesar das dificuldades, a busca pela verdadeira identidade e pela conexão humana continua. À medida que nos permitimos ser vulneráveis e autênticos, abrimos espaço para relacionamentos mais genuínos e significativos. Afinal, no cerne de nossa existência, o que realmente importa é a capacidade de nos conectarmos uns com os outros, de compartilhar nossas histórias, nossas dores e nossas alegrias.

Portanto, ao nos depararmos com a pergunta "Posso ver a sua identidade?", talvez devêssemos nos perguntar também: "Será que eu estou disposto a mostrar a minha verdadeira identidade? Estou pronto para me conectar de forma autêntica e profunda?"

Somente quando nos permitimos ser verdadeiramente com nós mesmos é que podemos abrir espaço para relacionamentos verdadeiros e significativos.

Por Alfredo Guilherme




sábado, 19 de outubro de 2024

Pega essa visão, Cupido…

       


       Acordei com o coração disparado, como se estivesse tentando lembrar um sonho que teimava em se esconder por entre a redes de neurônios. 
      Estava ofegante, suando com uma estranha sensação de ter vivido algo completamente surreal. 
      Tudo o que veio à minha mente foi uma cena maluca, eu, conversando com ninguém menos que o "Cupido", o garoto alado da mitologia grega, sentado ali, na minha frente em stand-by, aparentemente exausto, com suas asas caídas e um pequeno arco descansando em seu colo, ao lado a sua aljava de flechas quase vazia, seu rosto mostrava sinais de fadiga, me pareceu que ele esperava ansiosamente por uma palavra amiga.

       No sonho, ele estava com aquele visual clássico, um paninho branco esvoaçante cobrindo levemente o seu "bingulim". Mas parecia tão perdido, desatualizado, como se não estivesse acompanhando as mudanças do tempo. E foi então que pensei, antes mesmo de acordar, por que não atualizá-lo devolvendo assim a dignidade nas tarefas do verdadeiro símbolo do amor que, claramente, parou no tempo. Não era justo ele continuar assim, preso à imagem de um garoto alado com síndrome de "Peter Pan", sem querer crescer e atualizar suas ferramentas.

       De repente, o sonho começou a ficar mais interessante. De alguma forma, consegui voltar lá, como quem resolve pausar um filme para dar uma sugestão ao personagem principal. Lá estava o Cupido, sentado num banquinho, me olhando com aquela cara de quem esperava ansiosamente pela conclusão satisfatória desse encontro. Talvez achando que eu, de alguma maneira, estivesse disposto a ajudá-lo a resolver os casos amorosos da vida real. Fui direto ao ponto

      - Ai, Cupido, pega essa visão... – eu disse, sentando ao lado dele. – Não tenho como abraçar a sua causa, garoto! Mas tenho umas dicas valiosas pra você se modernizar !!!

      Ele arqueou as sobrancelhas, curioso, e eu percebi que tinha sua total atenção. Não sabia muito bem como, mas ali estava eu, prestes a reformular o papel do arquétipo do amor.

      - Primeiro de tudo, esse seu visual aí, cara... nada de usar esse paninho esvoaçante, isso, quando você usa né, tu gosta mesmo é de voar peladão por aí ? Vamos atualizar isso já !, sugeri. – Que tal uma sunguinha branca ou uma bermuda de esqueitista ? Vai por mim, andar por aí com o "bingulim" de fora pode te render um processo por conduta imoral nos dias de hoje.

      Cupido olhava confuso, mas parecia estar considerando a ideia.

       - E tem mais, seu arco e flecha? Isso está ultrapassado. Hoje em dia, você devia estar nos aplicativos de relacionamento! Imagina só, suas asinhas voando enquanto você desliza o dedo pro lado direito dando "Match no Tinder". Muito mais eficiente que ficar voando pra todo lado atirando flechas por aí.

       Ele inclinou a cabeça, pensativo. Continuei com minha palestra motivacional. 

       Podes crer amizade !!!  – Que tal mandar emojis fofos pelo WhatsApp? Ou até mesmo um áudio preguiçoso: "Oi... vocês foram flechados,... é isso... boa sorte !!." Bem mais rápido e menos cansativo, hein?.

       Agora ele já estava sorrindo, mas eu ainda não tinha terminado.

      -Nada de bilhetes românticos deixados em baixo de travesseiros. No Instagram você comenta em fotos… "Vocês dois fariam um belo casal", e pronto! "Match garantido". Quer mais? Use um drone para lançar as flechas, assim você não se cansa e nem precisa voar tanto.

      Nessas alturas da conversa o Cupido já estava praticamente anotando mentalmente minhas dicas.

      - E, claro, nada de bilhetinho manuscrito. Manda um e-mail!... Com algo do tipo… "Você foi atingido por uma flecha invisível do amor. Para mais detalhes, consulte sua caixa de entrada." Mais rápido, prático e confiável.

      Ele me olhou, agora com um sorriso malicioso. Acho que estava realmente começando a gostar da ideia de modernização na sua área de trabalho. 

      Ele estava prestes a me agradecer quando, de repente, senti meu corpo sacudir. Acordei assustado, com meu despertador tocando ao lado.

       Fiquei alguns segundos sentado na cama, tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer. Olhei ao redor, tentando entender se aquele encontro com o Cupido tinha sido um sonho lúcido, mais para saber eu teria que recorrer a psicologia e a neurociência, só assim eu teria uma resposta exata sobre o conteúdo do sonho.

       Mas antes de sair da cama, me peguei rindo sozinho. Vai saber se, em algum canto do universo, O Cupido não estaria realmente repensando sua vida, depois de todos esses anos vivendo e sofrendo as dores do amor por se apaixonar perdidamente por uma mortal chamada 'Psiquê", veio dai a sua vontade de unir os corações apaixonados dos mortais eternamente...

       Estaria ele agora todo moderninho, abrindo para si, um perfil em algum site de relacionamento ?.



        Por Alfredo Guilherme



segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O corpo e a sua linguagem secreta ...



     O amor, quando vivido de forma intensa, transforma cada toque, cada suspiro, em poesia. A pele encontra o calor da outra, e o silêncio se preenche de sentidos, como se o próprio corpo conversasse em uma linguagem secreta. O desejo percorre seu corpo como um rio, sem pressa, fluindo entre carícias que falam mais que palavras.

     Há uma coreografia natural na entrega ao amor. Os lábios, macios e famintos, depois do beijo, deslizam pelo corpo do outro como quem busca um ponto certo de prazer, que já é familiar. O calor dos corpos queima é o único fogo que importa, e o tempo, que por um momento, parece se curvar, fazendo de cada segundo uma eternidade.

     Os movimentos são lentos, como se ambos soubessem que a verdadeira beleza está na descoberta, na paciência de explorar cada curva, cada gemido que escapa. O mundo lá fora deixa de existir, e o universo se reduz a dois corpos que se entregam ao prazer.

     E quando o ápice chega, não é só o prazer físico que toma conta, mas uma sensação de união profunda, onde os limites entre um e outro se dissolvem. O amor se completa no toque, na troca de olhares intensos e no silêncio que se segue, onde o corpo descansa, preenchido pelo que há de mais puro, a entrega total.


     Por Alfredo Guilherme






sábado, 12 de outubro de 2024

Crônica : Depois do ato se aconchegar ou ?….



       Depois de um momento de amor, há uma infinidade de reações possíveis que os casais vivenciam. Algumas delas acontecem de forma automática, quase instintiva. Tem quem goste de se aconchegar, deitar junto e deixar o corpo relaxar em meio ao calor do momento, permitindo que o sono chegue sem qualquer resistência. É como se, depois da tempestade de sensações e emoções, o silêncio e o descanso fossem a única resposta possível. O cansaço se transforma em uma espécie de tranquilidade, um fim natural para a dança dos corpos.

      Para outros, a sensação de necessidade de limpeza surge quase imediatamente. Depois de se entregar ao prazer, é como se o corpo pedisse um novo começo. A água quente do chuveiro, caindo sobre a pele, tem um efeito reconfortante, quase terapêutico. Ela lava não só o suor, mas também as emoções, permitindo que tudo se renove. O vapor do banheiro envolve a alma, e o casal pode até continuar o diálogo de carícias por ali, no meio da espuma, entre risos e gotas d’água sobre o corpo.

     Ainda existem os que ficam ali, quietos, apenas respirando o momento. O silêncio depois do sexo é também uma forma de comunicação, sem a urgência das palavras. É como se o corpo dissesse: "Por enquanto, isso é o bastante". O toque suave que se prolonga, o calor que ainda pulsa, o olhar preguiçoso, tudo isso traduz uma cumplicidade que dispensa palavras. 

     E, no fundo, não há certo ou errado. Cada casal encontra seu próprio ritmo depois do ato, seja abraçando o sono profundo, correndo para o chuveiro ou simplesmente permanecendo no silêncio de quem já disse tudo com o corpo. Agora no após, se não tiver um gesto de carinho, virar de bunda pra você e dormir, a casa caiu, e você sem perceber está debaixo dos destroços, e não embaixo do lençol. E não me venha com chorumela dizendo que o dia foi cansativo.

     O importante, afinal, é respeitar esse tempo, esse espaço de intimidade que o amor constrói, porque, cada reação carrega em si um pedaço da história que o casal está escrevendo juntos.


      Por Alfredo Guilherme 



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Crônica : O caos verbal…

      


     Conversa Vai, Conversa Vem…

    Tem gente que não só fala demais, como fala muito!!! isso é verdade. Mas tem gente que abusa do poder da língua, na ajuda nesse quesito, indo além de qualquer limite imaginável. O tipo de pessoa que, se deixar, conversa com ela mesma pela manhã no espelho do banheiro escovando os dentes, fala com o  armário, “Aí que roupa que eu ponho” , com o cachorro do vizinho, e até com a sombra da bicicleta encostada no muro. E se ela receber um bom dia no WhatsApp, aí vou falar, vai dar ruim, ela vai esticar a conversa até a hora de fazer o almoço.

    Conheço alguém assim. A gente está tomando um café e pronto, o monólogo começa. Não importa o tema, falar da vida de parentes próximos, política, receita de bolo, o último livro que não leu, mas que ouviu falar, e a novela que viu só pela metade, mas que já sabe o final. Às vezes me pergunto se essa pessoa respira ou se já desenvolveu um sistema autossuficiente de ar e de fala contínua.

     O problema maior, no entanto, é quando ela leva isso pra rua. Atravessou a portaria do prédio, o perigo começa. Vai ao mercado e, no corredor das frutas, puxa papo com o repositor das frutas com a moça ao lado, discute sobre o aumento dos preços, com a caixa do mercado. Vai na farmácia, e logo já está perguntando para o balconista se ele também sente dor nas costas quando acorda. Esperando o ônibus, você sente a cobertura do ponto do ônibus tremendo só de saber que ela está ali presente. Se o ônibus demora cinco minutos, pobre de quem está esperando junto. Se não interagir, a pessoa se sente na obrigação de contar detalhes da vida. O desconhecido, coitado, entra em modo de sobrevivência, responde por educação, mas já lamenta o ônibus dele estar demorando tanto e não ter trazido fones de ouvido.

     O mais curioso é que não há necessidade de resposta para ela. Na verdade, é como se a conversa fluísse em um circuito fechado, onde a presença do outro é só o ponto de partida, porque, convenhamos, diálogo não precisa de plateia, mas monólogo... esse, sim, precisa.

     Certa vez, dando carona a ela a caminho de sua casa, parei na esquina com o sinal vermelho, ela olhou na direção do semáforo e, por um momento, senti que ia dar “marche”, entre os dois, meu olhar paralisou nela. Ela olhou para o semáforo com ar de intimidades e deu um bom-dia cheio de entusiasmo. Não satisfeita com o cumprimento, o semáforo foi alvo de uma reflexão profunda seguido de um comentário sobre o valor que ele tem no comando do trânsito diariamente. Se ele não estivesse tão ocupado na disciplina de fluxo de veículos e pudesse responder, aposto que teria opinado com ela, sobre a estatística de acidentes de atropelamento na faixa de pedestres.

      O mais engraçado é que o mundo parece conspirar para essas pessoas. Elas têm um dom, uma espécie de radar, que capta outros que gostam de falar ou, pior, os que apenas querem ouvir. Nessas horas, desconfio que as cidades grandes foram feitas para essas almas. Há sempre um estranho para encontrar, sempre uma oportunidade de transformar um momento de silêncio em um festival de palavras.

      Mas sabe de uma coisa? No fundo, acho que pessoas assim são necessárias. O mundo anda tão silencioso em muitos sentidos, tão preso nas telas dos celulares, e notebook, que a conversa,  por mais incessante que seja, talvez seja o que nos falta. Talvez, quem sabe, até o semáforo, no seu imponente trabalho, gostaria de ter alguém para conversar.

       Enquanto isso seguimos na escuta e no fluxo de uma enxurrada de palavras, de pessoas como ela, torcendo para que, um dia, a conversa nos dê uma pausa. Acho que neste caso só Jesus na causa…


        Por Alfredo Guilherme 



terça-feira, 8 de outubro de 2024

Crônica: Quando o Amor Parte, o que Resta?…


      Perder um amor com uma certa idade, não é apenas uma ruptura. É como se a vida desse uma volta na estrada e, de repente, o caminho que parecia já traçado se dissolvesse. Mas, a surpresa da vida é que, muitas vezes, o que parece fim pode ser o começo de algo inesperado.

      Quando o companheiro de décadas parte, seja por separação ou morte, o silêncio invade o cotidiano, mas o eco das lembranças permanece. O cheiro do café pela manhã, as risadas compartilhadas, as rotinas feitas a dois, tudo parece desmoronar. O coração, embora envelhecido, ainda sente como na juventude, e a dor de perder alguém não diminui com o tempo vivido. Mas é justamente no meio dessas incertezas que, às vezes, a vida surge com suas pequenas surpresas de felicidade.

      Nessa fase, é comum pensar que as grandes emoções da vida já ficaram para trás, mas o curioso é que, muitas vezes, a vida tem outros planos. O amor, que parecia encerrado, pode aparecer nas formas mais improváveis. Pode ser em uma nova amizade que nasce numa tarde tranquila em uma conversa despretensiosa em uma cafeteria do bairro, ou até mesmo em redescobrir uma paixão antiga, e nesse momento se dedicar as coisas que irá te manter focado, se dedicando à leitura na inspiração pela pintura, escrever palavras ao vento poeticamente, sair e caminhar no parque, voltar a dedilhar o violão que ficou empoeirado no canto da sala, apreciar o pôr do sol a beira da praia.

      As surpresas de felicidade depois dos 60, 70 não são, necessariamente, como as dos 20. Não têm a explosão das primeiras paixões, mas trazem uma serenidade única. São alegrias que nascem em pequenos gestos, como abraçar o neto na primeira vez, encontrar uma carta antiga que traz de volta momentos esquecidos, ou até conhecer alguém em uma viagem inesperada, ou dobrando a esquina, se tiver sorte em um site de relacionamento onde dois corações cansados, mas ainda pulsantes, encontram consolo e compreensão.

      Aos poucos, a vida começa a desenhar novas paisagens, com cores mais suaves e, quem sabe, um novo capítulo se abre. Não é o fim da história, apenas uma mudança de tom. E o mais surpreendente é que, mesmo que a idade avançou, a felicidade continua a nos encontrar nos lugares mais inesperados, basta estarmos abertos para recebê-la.


       Por Alfredo Guilherme 




domingo, 6 de outubro de 2024

Em seu corpo…

 



No espelho reflete-se a curva sedutora
formas esculpidas com arte e primor.
Cada linha, cada curva, uma obra divina
em meu corpo tua presença se define.

A pele macia como pétalas de flor
sedução que emana a cada movimento.
Teus olhos buscam o calor da paixão
em meu corpo, és a minha, canção.

Os lábios rubros como frutos maduros
Convite ao êxtase, ao doce prazer.
Em cada toque, em cada suspiro
o corpo revela o fogo a pulsar.

Nossos corpos entrelaçados em desejo
dança sagrada, ritmo de amor.
Cada parte tua, em mim, se encaixa
em êxtase, somos um só ser.

No seu corpo amado, meu refúgio
em cada curva, um conto de amor.
Assim rendo-me à tua sedução
em teu corpo, nele encontro a redenção.

Por Alfredo Guilherme



sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Crônica: O Silêncio do Amor…



       O Silêncio do Amor…

      Às vezes, as palavras chegam para complicar o que deveria ser simples. Nos momentos em que o coração bate mais forte, é comum sentirmos a urgência de dizer algo, como se a profundidade do que sentimos precisasse ser preenchida pelo sons das palavras.

      No entanto, palavras, com suas limitações, nem sempre são suficientes para captar a magnitude de certos instantes. Nessas horas, o bom senso sussurra no seu ouvido que talvez não seja necessário dizer nada. Talvez tudo o que precise ser dito já esteja sendo falado no silêncio, no olhar, no toque das mãos.

       Há situações em que a necessidade de falar vira um ruído insuportável, quebrando a magia do momento. Quando estamos ao lado de quem amamos, pode surgir uma ânsia por expressar o que sentimos em discursos elaborados, metáforas complexas ou frases poéticas. No entanto, é possível que a pessoa a sua frente, também sinta, e não esteja esperando por palavras bonitas, mas por um gesto simples. Algo tão básico quanto um “Eu te amo” que pode carregar o peso do mundo sem a necessidade de adornos.

      Um toque das mãos, um olhar penetrante e silencioso, um sorriso tímido... um beijo molhado, muitas vezes, isso seria  mais eloquente do que qualquer frase de efeito. O amor, afinal, não é uma poesia que precisa de rimas perfeitas, mais sim de uma presença que se sente. Tentar colocar em palavras aquilo que o coração já sabe pode até, em certos momentos, parecer redundante.

      Talvez a verdadeira sabedoria esteja em perceber que, em determinados momentos, o melhor a ser dito é simplesmente não dizer nada. Apenas permitir que o silêncio entre duas pessoas preencha o espaço. Porque o amor tem uma linguagem própria, que dispensa palavras e é compreendida por quem se permite compreender.

      Assim, quando as palavras parecerem querer complicar aquilo que o coração já entende, talvez o melhor seja olhar nos olhos, respirar fundo e, se for para falar, que seja um simples… “Eu te amo”. Isso é tudo. Isso é o suficiente.


      Por Alfredo Guilherme 





quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Reflexões sobre a Autoenganação…


                    As pessoas às vezes mentem para si mesmas, é para suportar uma situação ou para mascarar suas verdades ?…

       Esse pensamento de mentir para a própria mente, acaba criando uma ilusão de vivência, traz à tona uma das questões mais profundas da condição humana, a tensão entre o que sentimos e o que projetamos para nós mesmos.

     Muitas vezes, colocamos máscaras emocionais, mentindo para nós sobre o que realmente estamos vivendo, como uma forma de proteção.

      Criamos histórias e narrativas para lidar com as expectativas que o mundo nos impõe, ou até para tentar enganar a dor ou a tristeza que sentimos, dizendo que a dor passou e que somos felizes, quando, no fundo, sabemos que nada disso aconteceu. 

       Mas por que fazemos isso? 

       Talvez seja porque a verdade é muitas vezes difícil de confrontar. Admitir que não estamos felizes significa enfrentar nossas vulnerabilidades, nossas falhas, e isso pode ser doloroso. 

        Fingir felicidade pode parecer mais fácil, mesmo que isso crie uma desconexão com nossa realidade interna.

       O problema com essa estratégia, no entanto, é que ela não pode durar para sempre. Quando mentimos para nós mesmos, criamos uma espécie de curto-circuito emocional, e essa falsa felicidade acaba nos afastando da busca genuína pelo bem-estar e paz.

       A verdadeira felicidade, aquela que nos completa e preenche, não nasce da negação ou da mentira, mas sim da aceitação. 

       É preciso ter coragem para olhar para dentro de nós, reconhecer o que nos causa dor ou tristeza, e então trabalhar a partir desse lugar de verdade. Só assim podemos começar a construir uma vida que, de fato, nos traga a real felicidade, aquela que não precisa ser fingida.

       Então, essa reflexão nos convida a parar de mentir para nós mesmos. A felicidade genuína só pode ser alcançada quando nos permitimos sentir o que realmente sentimos, sem julgamentos, sem máscaras, e sem a necessidade de convencer a nossa mente de algo que não somos.

        É no momento em que paramos de mentir que começamos a viver de maneira mais autêntica, aceitando a complexidade da vida com suas tristezas e alegrias, e descobrindo que ser feliz não é um estado permanente, mas sim momentos de bem-estar que surgem quando estamos em paz com quem realmente somos.


       Por Alfredo Guilherme 



terça-feira, 1 de outubro de 2024

Emigrar a conversa para o WhatsApp….Vai a dica pra geral hein!!...

        

   

 Mover a conversa para o....

 Zap.... É tipo um ritual de passagem, quase um troféu de conquista. Não perdendo o ritmo! É claro...

  É um passo natural quando há um bom ritmo entre vocês. Isso cria uma conexão mais pessoal e mostra que o interesse está avançando. 
          Aqui vai a dica pra geral hein!! De como continuar a desenvolver a conversa e eventualmente marcar o primeiro encontro... 

         Crie uma transição leve. Quando sentir que a conversa flui bem, faça um comentário positivo e sugira o WhatsApp de forma descontraída. Algo como... 

        "Eu adoro conversar contigo aqui, mas seria mais fácil continuar no WhatsApp. O que você acha?" 
        Outra dica é... "Tô curtindo muito esse papo, que tal a gente continuar no WhatsApp?"


       Aí vem a parte difícil...Agora que a conversa já ficou um pouco mais íntima, o que você faz? Seja natural e autêntico...

       Assim que a conversa continuar no WhatsApp, mantenha o tom leve e natural. Não é necessário mudar o estilo da conversa. Continue sendo quem você é, com bom humor e mostrando um interesse genuíno. 
       Pergunte sobre os interesses dela e compartilhe também os seus. 

       Não vai começar lembrando ela que o sol nasce com um magro “Bom dia!!” E termina a noite com um "Oi, como foi o dia?". Pelo amor de Deus, isso já é o nível máximo de desânimo. Manda aquela playlist romântica (mas nada de Anitta se ela tá mais no clima dos "Bee Gees", ok ?). 

       Tente manter a conversa girando em torno de hobbies, músicas, filmes, teatro, viagens ou qualquer outro interesse que vocês tenham em comum.

       O tempo ideal para teclar com alguém em um aplicativo, como o WhatsApp, pode variar conforme o interesse e a dinâmica da conversa, "Conversas Casuais". Entre 15 e 30 minutos cada sessão de mensagens que sejam curtas, as mensagens gravadas no máximo 20 a 30 segundos, de conteúdo, pode ser o ideal para manter a conexão e o interesse sem esgotar os tópicos rapidamente, deixem em aberto para que ambos queiram continuar conversando mais tarde. 

      Se a conversa está fluindo, 30 a 60 minutos ou mais pode ser uma boa duração. Evite em ficar falando do passado pessoal de seus relacionamentos, porque quem gosta de passado é museu !!!! Deixe esses detalhes guardados pra quando você escrever um livro de memórias. 

        Preste atenção ao tempo de resposta da outra pessoa. Se ela está respondendo rapidamente e mantendo a conversa ativa, é sinal de interesse, mas se as respostas demorarem mais, pode ser interessante pausar e dar espaço para que a conversa continue em outro momento. 

        Nesse intervalo nunca enviar mensagem do tipo “Está demorando pra responder você está teclando com outra pessoa?" Pode ocorrer aí um mal-estar na conversa, essa é uma receita fatal do fracasso!

        Pois ao mesmo tempo a pessoa pode estar respondendo assunto importante de trabalho ou de família, ou até fazendo alguma tarefa no lar, e o pior de tudo se a mesma estiver dirigindo.

        Quanto a uma vídeo-chamada ? Pode ser um spoiler bastante importante no início de um relacionamento, ajuda a fortalecer a conexão e a criar um senso de proximidade que, muitas vezes, as mensagens de texto não conseguem transmitir completamente. Aqui estão alguns motivos para considerar fazer uma chamada de vídeo, ver a expressão facial, gestos e ouvir o tom de voz ajuda a construir uma relação mais próxima e sincera, facilitando a confiança. 

         Enquanto mensagens e fotos podem ser cuidadosa e estrategicamente escolhidas, a vídeo-chamada é mais espontânea e dá uma ideia mais real da personalidade da pessoa. Mesmo que virtual, a vídeo-chamada permite que vocês vejam como a conversa flui em tempo real, testando a química entre vocês de uma maneira mais natural, dando uma sensação de segurança antes do primeiro encontro.
        Porém, o momento de fazer a chamada deve ser confortável para ambos. 
A chave é manter o equilíbrio, simples, direto, e zero pressão! Garantindo que ambos estejam interessados e participando ativamente. 

       Quando a conversa já estiver fluindo bem no WhatsApp, você pode sugerir um encontro de forma suave descontraída. Algumas ideias suave, como quem não quer nada, mas querendo, né?

       "Tô adorando nossas conversas, acho que seria ainda mais legal se pudéssemos nos encontrar pessoalmente. Que tal um café/drink essa semana?"

       "Eu vi que você curte [algo que ela mencionou]. Que tal a gente fazer isso junto um dia desses?"

       Proponha um lugar tranquilo e neutro, como um café, um bar ou um parque, para que ambos se sintam à vontade.

       Mostre que está empolgado com a ideia do encontro, mas de maneira leve. Algo como:

       "Acho que vai ser super, divertido a gente sair, já tô animado pra te conhecer melhor."

        Se o interesse é mútuo é evidente, não há necessidade de esperar muito mais do que 7 dias para dar o próximo passo e marcar o primeiro encontro! Criando um ambiente descontraído e confortável respeitoso para ambos.


          Por Alfredo Guilherme 


        Ok, dica de Transição Leve e Descontraída, concluída com sucesso. Relaxa, é como no videogame: Você subindo de fase! Agora é com você !!!! Suave, como quem não quer nada, mas querendo, né?